Texto publicado na edição 741 do jornal Ponto Final
O primeiro
relato de diagnóstico da doença atualmente conhecida como Aids é datada de 5 de
julho de 1981, nos Estados Unidos. A origem da doença, trinta e um anos
passados, é ainda um mistério. Teorias que vão desde o contato com primatas –
uma mutação do vírus da imunodeficiência símia – proveniente da caça ocorrida
desde o século 19, até negligência de pesquisadores que buscavam desenvolver
uma vacina contra a poliomielite, na década de 1950, permeiam a rede mundial de
computadores e estão abertas a todos.
Entretanto, não
tão acessíveis quanto à informação referente ao HIV, os testes de detecção do
vírus estão escassos e restritos na região do ABC. A campanha “Fique
Sabendo”, integrada ao Dia Mundial de Combate a Aids, cujo objetivo é promover
ações de detecção e prevenção à doença, não ocorrem nas cidade de Santo André,
São Caetano, Diadema e Ribeirão Pires, como denuncia matéria veiculada nesta
edição do Ponto Final (página 4).
Os motivos e
suposições para a isenção desses municípios na agenda da campanha variam. Mais
do que elucubrar sobre os pretextos, comumente vinculados ao despreparo
administrativo e ao evidente descaso de fim de mandato de alguns
administradores, cabe o levantamento primordial: picuinhas pseudo-políticas não
devem, jamais, constarem na agenda da saúde pública.
Estimativas da Secretaria da Saúde de São Paulo apontam que,
diariamente, oito pessoas são mortas pelo vírus no Estado. E apesar da redução
gradual dos últimos dez anos, é importante não esquecer que uma guerra só é
vencida com ações massivas de repreensão ao inimigo.
E não se enganem caros leitores,
estamos em uma guerra. Uma guerra que, além dos limites do corpo, no qual o HIV
se prolifera, atinge o campo social. Sem ações coordenadas, entre agentes
federais, estatais e municipais, numa unidade presentemente inviável em virtude
das características intrínsecas à política, certamente sucumbiremos e, dentro
em pouco, todos estarão entre os oito
mortos por dia.
Mas não estendamos este texto aos
limites da politicidade, tampouco entremos no campo da crítica revolucionária
ao sistema político. Por hora, queremos o essencial. E conhecimento é
essencial. Sem, por exemplo, a possibilidade de realizar um simples exame, de
trinta minutos e custo ínfimo ao governo, podemos sem saber estar dando armas
ao inimigo, proliferando um vírus maligno. Por mero descaso organizativo da
organização de nossos governantes, podemos estar semeando a própria destruição.
Prevenção, evidente, é o caminho
primordial para a erradicação da Aids. Use camisinha, diga não as drogas,
mantenha um relacionamento seguro. Todas essas frases de efeito são,
certamente, o fundamento do combate. Mas queremos mais. Queremos realizar um
exame simples – e isso se estende a outros ramos da medicina – sem ter de
passar por burocracias infundadas que levam o tempo de espera para além da
expectativa de vida média dos brasileiros, queremos o direito de participar de
uma campanha em prol da vida, queremos viver.
Precaução e canja de galinha não
fazem mal a ninguém. Mas, no final, caso fechemos os olhos às circunstâncias,
só restarão os que, por usurpação, banqueteiam sobre nossas carcaças pagadoras
de impostos.