terça-feira, 9 de abril de 2013

Aniversário andreense termina com furto nos bastidores - mas valeu a pena.


Santo André, 7 de abril de 2013. Aproximadamente 13h30. O estacionamento do Paço Municipal andreense era ocupado por um grande palco e tipos dos mais esquisitos perambulavam, portando copos e garrafas, com cabelos multicoloridos e roupas surradas.

            Exceto pelos cabelos – que hoje me são escassos – e as roupas – que tento manter relativamente alinhadas – este jornalista percorria o espaço em busca de uma credencial de imprensa que permitisse o acesso aos bastidores. Um amigo na assessoria foi o responsável por atarraxar uma pulseira em meu pulso, fazendo minha circulação quase parar... Mas a essa altura a cerveja começava a fazer efeito e o sangue nas mãos não era problema urgente.
            Não demorou, o prefeito Carlos Grana apareceu, trajando calça jeans e camisa, suando, como de costume. Ao longe acenou, buscando minha atenção. Me aproximei.
“Tudo bem meu rapaz?”, indagou ele. “Então você também é do rock’n roll?!”, perguntou de maneira afirmativa. “Me dá gole dessa cerveja aí...”, pediu com a mão esquerda estendida – a direita era ocupada pelo cigarro...
            Segundos mais tarde, se aproxima Oswana Fameli, vice-prefeita da cidade, e Frank Aguiar, vice de São Bernardo. “Registre aí a presença do Frank”, determina Grana, me apresentando: “Este aqui é do Ponto Final, um importante jornal, focado no 2° Subdistrito”, e demos as mãos...
            Oswana, trajando uma calça de couro (ou que parecia ser) preta veio cumprimentar. “Hoje você é do rock!”, afirmei. Ela ergueu as mãos, formando os famosos chifrinhos com o mindinho e o dedo indicador. “Yeah!!!”, respondeu.
            Deixei de lado a rasgação de ceda em torno das autoridade governamentais, provinda de diversos malas que se aproximaram, e sai em busca de outra cerveja – Grana havia dado um gole profissional na minha, matando metade do copo.
            Entrei nos bastidores e constatei que não havia álcool par aos jornalistas, tampouco para as bandas. “Resolvemos não dar um mau exemplo”, afirmou um assessor de imprensa ao ser indagado: “Como espera que escrevamos algo decente sóbrios?”
            O palco foi ocupado por bandas que pareciam tornar-se melhor à medida que meu dinheiro era consumido em gastos etílicos. Alguns periféricos alucinógenos permitiram, ainda, uma visão mais distorcida do som.
            Quando meus recursos haviam praticamente se extinguido, inclusive o dinheiro no cartão do banco, cujo o uso foi permitido graças a um maluco que portava um isopor repleto de latas e uma maquineta da Cielo pendurada no pescoço, com a qual realizava transações bancárias em suas vendas, decidi por bem que a banda principal, o Tihuana, não era merecedor das bebidas que, anteriormente, havia visto em seu camarim privativo.
            O primeiro assalto aos bastidores foi bem sucedido, e uma dose de uísque foi facilmente surrupiada do camarim, sem muitas perguntas da ‘guardiã’ do local. Sorvi o conteúdo do copo ali mesmo, sem me preocupar com os olhares repreensivos dos seguranças e organizadores, que não entendiam como um jornalista podia estar tão abaixo na ‘cadeia alimentar’ do show business, não se comportando como um estereotipado agente midiático, lambendo as bolas de todos os que, mesmo superficialmente, transparecessem algum status social.
            Um instante de distração da guardiã foi o estopim. Uma fúria alcoólica invadiu a atmosfera e julguei correto pilhar toda a cerveja que conseguisse do Tihuana. Afinal, é minha cidade, não deles. Eu paguei aquela porcaria, com meus impostos e impostos dos que eu pago pelos serviços.
            Já colocava a segunda lata em minha bolsa, quando uma mão gigante me tocou o ombro, virando-me de supetão. “Você não é do Tihuana!”, afirmou ele. “Não!”, respondi, “Graças a deus. Sou jornalista!”. Neste instante volta a guardiã. “Você de novo, tira esse cara daqui!”, bradou aos sete ventos...
            No percurso até a saída, me arrancaram a credencial do braço – já não era sem tempo, minha mão já estava roxa... “Esse não entra mais!”, disse um ‘armário’ ao outro que estava na portaria.
           Olhei a bolsa, e uma cerveja ainda restava, não haviam visto o fruto de meu roubo Robin-Hoodiano... Abri a lata, dei um largo gole, e brindei um feliz aniversário a esta cidade decadente chamada Santo André, seguindo para estação de ônibus para ser, desta vez, eu o roubado, pagando R$ 3,30 por uma passagem de última classe....