Santo André, 7
de abril de 2013. Aproximadamente 13h30. O estacionamento do Paço Municipal
andreense era ocupado por um grande palco e tipos dos mais esquisitos
perambulavam, portando copos e garrafas, com cabelos multicoloridos e roupas
surradas.
Exceto pelos cabelos – que hoje me
são escassos – e as roupas – que tento manter relativamente alinhadas – este jornalista
percorria o espaço em busca de uma credencial de imprensa que permitisse o
acesso aos bastidores. Um amigo na assessoria foi o responsável por atarraxar uma
pulseira em meu pulso, fazendo minha circulação quase parar... Mas a essa
altura a cerveja começava a fazer efeito e o sangue nas mãos não era problema
urgente.
Não demorou, o prefeito Carlos Grana
apareceu, trajando calça jeans e camisa, suando, como de costume. Ao longe
acenou, buscando minha atenção. Me aproximei.
“Tudo bem meu
rapaz?”, indagou ele. “Então você também é do rock’n roll?!”, perguntou de maneira
afirmativa. “Me dá gole dessa cerveja aí...”, pediu com a mão esquerda
estendida – a direita era ocupada pelo cigarro...
Segundos mais tarde, se aproxima Oswana
Fameli, vice-prefeita da cidade, e Frank Aguiar, vice de São Bernardo. “Registre aí a presença do Frank”,
determina Grana, me apresentando: “Este aqui é do Ponto Final, um importante
jornal, focado no 2° Subdistrito”, e demos as mãos...
Oswana, trajando uma calça de couro
(ou que parecia ser) preta veio cumprimentar. “Hoje você é do rock!”, afirmei.
Ela ergueu as mãos, formando os famosos chifrinhos com o mindinho e o dedo
indicador. “Yeah!!!”, respondeu.
Deixei de lado a rasgação de ceda em
torno das autoridade governamentais, provinda de diversos malas que se
aproximaram, e sai em busca de outra cerveja – Grana havia dado um gole
profissional na minha, matando metade do copo.
Entrei nos bastidores e constatei
que não havia álcool par aos jornalistas, tampouco para as bandas. “Resolvemos
não dar um mau exemplo”, afirmou um assessor de imprensa ao ser indagado: “Como
espera que escrevamos algo decente sóbrios?”
O palco foi ocupado por bandas que
pareciam tornar-se melhor à medida que meu dinheiro era consumido em gastos
etílicos. Alguns periféricos alucinógenos permitiram, ainda, uma visão mais
distorcida do som.
Quando meus recursos haviam
praticamente se extinguido, inclusive o dinheiro no cartão do banco, cujo o uso
foi permitido graças a um maluco que portava um isopor repleto de latas e uma
maquineta da Cielo pendurada no pescoço, com a qual realizava transações
bancárias em suas vendas, decidi por bem que a banda principal, o Tihuana, não
era merecedor das bebidas que, anteriormente, havia visto em seu camarim
privativo.
O primeiro assalto aos bastidores
foi bem sucedido, e uma dose de uísque foi facilmente surrupiada do camarim,
sem muitas perguntas da ‘guardiã’ do local. Sorvi o conteúdo do copo ali mesmo,
sem me preocupar com os olhares repreensivos dos seguranças e organizadores,
que não entendiam como um jornalista podia estar tão abaixo na ‘cadeia
alimentar’ do show business, não se
comportando como um estereotipado agente midiático, lambendo as bolas de todos
os que, mesmo superficialmente, transparecessem algum status social.
Um instante de distração da guardiã
foi o estopim. Uma fúria alcoólica invadiu a atmosfera e julguei correto pilhar
toda a cerveja que conseguisse do Tihuana. Afinal, é minha cidade, não deles.
Eu paguei aquela porcaria, com meus impostos e impostos dos que eu pago pelos
serviços.
Já colocava a segunda lata em minha
bolsa, quando uma mão gigante me tocou o ombro, virando-me de supetão. “Você
não é do Tihuana!”, afirmou ele. “Não!”, respondi, “Graças a deus. Sou
jornalista!”. Neste instante volta a guardiã. “Você de novo, tira esse cara
daqui!”, bradou aos sete ventos...
No percurso até a saída, me
arrancaram a credencial do braço – já não era sem tempo, minha mão já estava
roxa... “Esse não entra mais!”, disse um ‘armário’ ao outro que estava na
portaria.
Olhei a bolsa, e uma cerveja ainda
restava, não haviam visto o fruto de meu roubo Robin-Hoodiano... Abri a lata,
dei um largo gole, e brindei um feliz aniversário a esta cidade decadente
chamada Santo André, seguindo para estação de ônibus para ser, desta vez, eu o
roubado, pagando R$ 3,30 por uma passagem de última classe....