quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A GRANDIOSIDADE ÉPICA DE PARRÃO E O BLUES DO PERNA DE PAU...

por: Marcelo Mendez (o Hunter do Cafife!!!)

E eis que tal e qual as câmeras de Michelangelo Antonioni saiam em busca da boca de Monica Vitti, eu, meu bloquinho e minha caneta bic, saímos atrás da sagração das chancas possíveis da várzea nossa. Fui parar no campo do XV do Capuava em Santo André. Uma boa escolha...

Em tempos de “Padrão Fifa”, de elitizações esdrúxulas, de grama e de emoções sintéticas, se faz completamente necessária a busca da essência que mantém o futebol vivo. Algo que seja de fato verdadeiro e nesse ínterim, nada é mais pleno que um campo de terra batida. E foi isso que encontrei.
Em um calor pleno de duas horas da tarde, debaixo de um sol pra lá de escaldante, de fazer derreter qualquer Lawrence da Arábia, vi uma bela e onírica pelada. Sim meus caros, era um jogo de bola que não valia nada além do prazer, da sociabilidade em torno de uma partida de futebol. Sentei em uma mesa da tendinha que serve de bar no campo. Por lá pedi por uma cerveja e um simpático amigo me atendeu:
“Tem Itapaiva. Cinco conto”

Me serviu uma. Paguei e descobri com ele que o jogo era um clássico entre Marandubas x Nóis Guenta Mé. Eram times de amigos que se juntavam para bater uma bola e comer uma carne de sábado. Fiquei a observar, dei um bom gole na Itaipava e de primeira já vi a história se fazendo ali na minha frente.
No time do Nóis Guenta Mé, um jogador de corpo franzino e muita vontade, vestia a camisa 7. E então lhe foi feito um passe, certinho, bola correndo bonita, pelo campo de terra, facinha. O amigo, com uma concentração de fazer inveja a monge tibetano olhava para pelota marrom, vindo em sua direção e então... Furou!

Sim amigos, o nosso ponta direita deu aquela furada épica de fazer corar! O jogo continuou e em outra ocasião ao tentar matar a bola, deu de canela e assim seguiu; Correndo muito, suando e dando galhofadas. Eis então que surge a coisa mais bela e mais fundamental para o futebol de Várzea:
O Perna de Pau!
Amigo leitor que me acompanha aqui nessas linhas vos digo de uma máxima perene:
A vida seria muito mais poética se os homens de bem que habitam o mundo tivessem a dignidade de um perna de pau. O canela dura é um onírico, um lúdico. Há nele uma honradez, uma decência quase que comovente. Com a consciência de mau jogador de bola, o perna de pau atinge os píncaros de uma retidão de caráter épica.

“Sai Parrão! Puta merda, ma como é ruim!!”
E esse é o nome de nosso personagem; Parrão!
Parrão corre, Parrão chuta. Parrão faz lançamentos, Parrão bate escanteios. Parrão erra tudo! Mas ainda assim afirmo:

 Parrão é um Poeta!

Porque o papel do Cronista não é buscar o berro impresso fácil das manchetes que o futebol das grandes corporações empurra goela abaixo, o esporte não é para isso. Se apenas existisse essa forma elitizada de ver e praticar o futebol, como estaria o nosso amigo Parrão? Jogaria ele no Corinthians, no Palmeiras ou num Mirassol da vida? Dariam ao nosso personagem uma camisa 7 para ele dar suas espetacadas? Pois é...

Na várzea Parrão joga. E sem Parrão a várzea não existiria. Para esse universo aqui retratado Parrão tem a importância que Paul Desmond tinha no Dave Brubeck Quartet em sessões de Jazz alucinantes. Porque só com tudo que há de mais épico na perna de pau de Parrão, pode haver aqui uma crônica para os senhores lerem. Sem isso, estaríamos aqui tratando de obviedades objetivistas tolas e sem encanto, mas não...
O Perna de Pau é um Santo!

Por tudo isso, eu estufo meu peito, acerto minha postura e digo do fundo de meu coração feliz da vida:

Parrão, eu te amo!

A vida é boa quando se goza com gozação

A trilha sonora jazzística ainda reverberava na mente dele e a imagem da garota surtia-lhe um efeito anestesiante. Entre ascendentes e luas, ouviu dizer que sua cobiça era fundamentada na vontade pura e simples – os astros lhe diziam que qualquer paixão o divertia, mas não podia ser, não com ela... Entre mãos e bocas o filme terminava, e os risos soltos prometiam perenidade. “Já disse que você me faz sorrir?”, ele ouve sussurrado em seu cangote. Seu coração dispara e numa bitoca ele toma-lhe o pulso buscando empate – ambos acelerados.

Blue moon / You knew just what I was there for / You heard me saying a prayer for / Someone I realy could care for...

Havia então uma vida de promessas casuais, muitas sem espaço ou tempo, sondagens inocentes e aproximativas... Um sofá, uma TV, um jantar e cumplicidades identificadas.  

Algumas lições aprendidas: francesas jovens podem levar Cate Blanchett à loucura (e o Xanax também). Mais vale um homem que arranca o telefone da parede num acesso de raiva a um que em espasmos românticos lhe esconde a esposa. A felicidade pode estar num pedaço de pizza repartido (o qual jocosamente se disputa) e a amargura numa pretensão inatingível. “Eu mesma fiz isso comigo!”, constata a protagonista no decorrer de uma DR mais que merecida. Fica a preleção woodiana: A vida é boa quando se goza com gozação...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Atenção, não alimentem os jornalistas

Jornalista aguarda, esfomeado, início da reunião
Regra número um para atrair jornalistas: seja alguém que os chefes dos jornalistas gostariam de ser. Número dois, comida – bebida é melhor, mas o álcool quebra o decoro da maior parte dos seres “dignos” de reportagem...

Um conjunto dos dois levou uma série de profissionais da imprensa ao gabinete do presidente da Câmara dos Vereadores de Santo André, Donizete Pereira, na última quinta-feira (12). O objetivo do parlamentar: apresentar o levantamento das ações da Casa – algo tão chato, que provavelmente não teria atraído ninguém caso o encontro não fosse tratado como “Café da Tarde” (e isso mesmo com o político em questão tendo dependurado em seu órgão genitor dezenas de editores).

O resultado prestado pela assessoria aponta que 49.171 pessoas compareceram às reuniões do Legislativo no segundo semestre de 2013. Segundo Pereira, isso se deve as ações de marketing da Câmara, que agora tem Facebook, Twiter, Instagran, conta no Lulu e o caralho... É tão internética a Câmara, que rivaliza com grande parte das adolescentes de 15 anos, ávidas em fotografar-se no espelho – os parlamentares, porém, tentam olhar o mínimo possível o próprio reflexo, para evitar constrangimentos psíquicos.

Os números não param – e como gostam de números essas pessoas; no fim, porém, a Câmara parece uma grande calculadora e a cidade uma grande fossa. Os vereadores criaram e votaram 40 matérias. De julho a dezembro, passaram pelo Legislativo 3.192 proposituras – e nenhum dos jornalistas aguentando mais ouvir tanta besteira na sala, só pensando em atacar os lanchinhos vindos da Padaria Brasileira.

Não vou encher os leitores com esse bando de dados. Por fim, só os resultados importam e esse pessoal da Prefeitura tem que trabalhar mais e aparecer menos. Volta e meia aparece um release na redação do jornal sobre a limpeza dos bueiros, os buracos tampados, a coleta de lixo, como se fossem notícia. Ora, meus caros, parem de buscar publicidade. Essas merdas são nada mais que a obrigação de vocês. Ótimo as pessoas saberem das ações do governo, mas essas são tratadas como glórias conquistadas, não direitos inatos. E mais...

Reticências, a boca se cala e se enche de pão com salame e suco de laranja. De repente, todos são grandes amigos frente à mesa de frios preparada pela Presidência da Câmara. Alimentados, os jornalistas felizes falam bem, aprenderam os políticos já nos primórdios da sociedade... E VIVA A CÂMARA, VIVA DONIZETI, VIVA, VIVA, VIVA O PÃO COM PRESUNTO...

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Gonzo cai no mundo

Então Gonzo percebeu que possuía tantas coisas, que não sobrava espaço para si. Havia um grande armário repleto de tranqueiras, havia centenas de revistas já lidas e empilhadas, livros que não serviam mais nem para a consulta, toda uma vida entulhada num quarto minúsculo... A vida estava apertada.

No tocante ao ser humano, percebeu que se armazena muito mais que o necessário – e os sentimentos ficam lá, embutidos nas quinquilharias inúteis. Trocou tudo por uma mala, pois assim, estaria sempre pronto para partir. Nada mais de amarras materiais. Era hora de ser capaz de carregar tudo que lhe pertencia – e tudo que lhe pertencia era somente ele mesmo, suas ideias e suas paixões. Três calças, sete camisas, duas blusas e um paletó, meias e cuecas, um par de sapatos, óculos e chapéu. Manteria sua escrivaninha e o computador, a TV e a estante de livros – somente os importantes. Estava, então, disposto a estrada – mesmo em casa, nunca mais estaria preso.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Deus, a Baleia Fosforescente e o Menino Selvagem – O Cafife Vai à Praia. Metáforas Fictícias Sobre a Sociedade Contemporânea

Estávamos em algum lugar perto da Rodovia Anchieta quando finalmente a cocaína se mesclou sutilmente ao uísque que bebíamos em um copo plástico. Lembro de ter dito algo como “isso vai ser tipo Medo e Delírio em Las Vegas, tem certeza de que sabe o caminho?” Nofx explodia nos alto-falantes e Dom Digon dirigia o carro enquanto eu equilibrava a bebida ao mesmo tempo em que acendia os cigarros e fungava um novo “tiro” na mão esquerda. Avançávamos rumo à praia de Paúba, no Litoral Norte, a uns 110 por hora com os vidros abaixados. “Drugs are neat and you can buy them relatively cheap” dizia Fat Mike pelo som. “Não foi tão barato assim”, respondi à música.

Antes...
Era mais ou menos onze da noite e Dom Digon, eu e Dri Pendejo bebíamos num bar caro, localizado no coração de Santo André. “Acho que devíamos filmar aquele roteiro que fiz, só precisamos contratar uma prostituta para as cenas de foda”, eu disse, e a conversa seguiu neste ritmo até que cerca de uma hora mais tarde a garrafa de Jack Daniel´s estava mais para vazia do que para cheia e uma ideia brotou não se sabe de onde: “vamos comprar ácido e ir para a praia”.

Pendejo, cuja mulher já havia chegado, declinou da ideia – cabisbaixo e com o olhar marejado. Eu e Dom Digon saímos em busca das drogas.

On the Road...
Não levou muito tempo para que o carro estivesse abastecido com quatro papeis de LSD, duas cápsulas de farinha, duas parangas de maconha, meia garrafa de uísque e outra de vodka. “Tem um pessoal numa casa em Paúba. Vamos para lá e teremos pelo menos onde tomar um banho quando acordarmos”, disse Digon, julgando erroneamente que dormiríamos. “Tanto faz”, respondi, batucando no teto do carro ao som de Lagwagon.

Dos trezentos reais que levávamos, cerca de 150 já havia sido gasto. As acomodações não trariam despesas e tudo com o que tínhamos de nos preocupar era em chegar vivos na Baixada.

O trajeto relativamente rápido, de curvas sinuosas e largos goles de bebida nos levaram a um conjunto de residências de alto padrão, chamado “Paúba, Um Vilarejo”. Antes de chegarmos à portaria, Tomamos um ácido cada um – “yeah, seja o que deus quiser”. “Nossa placa não está relacionada aí na sua lista, mas é muito importante que nos deixe entrar. Estão nos esperando”, dissemos ao porteiro que nos liberou tão rápido que pensei: num futuro próximo, caso a miséria completa me atinja, já sei aonde virei roubar algumas residências de luxo.

A casa que usurparíamos não deixava nada a desejar às demais. Piscina, redes, mulheres lindas, homens receptivos e cerveja, bastante cerveja. Dalí seguiríamos até a praia. Veríamos o sol nascer e beberíamos todo o resto de nossos provimentos. Estávamos em busca de não sabíamos o que, a 150 quilômetros de casa, sem nem mesmo uma cueca de reserva; com a cabeça chapada de ácido e os bolsos repletos de pontas de baseado.

A praia em movimento...
“Eu disse, porra, que a Baleia Fosforescente morre ali, enquanto o Menino Selvagem é currado por pescadores atrás daquelas pedras e aquelas malditas montanhas ficam se mexendo. Caralho, por que aquela merda não para de se mexer...”, questionei eu, com água até a cintura e uma garrafa de vodka na mão, enquanto era resgatado pela Baleia Fosforescente e pelo Menino Selvagem. “Você está com seu celular, sua carteira e os cigarros no bolso, seu maluco desgraçado!”, disseram eles enquanto me resgatavam à segurança da areia.

Por algum motivo insano imaginei que comandava toda a natureza. Mais do que isso, eu era deus, questionando porque diabos as pessoas cagavam em minha obra. A Baleia Fosforescente ria e rolava no chão, sem saber que sua atitude a faria encalhar, enquanto o Menino Selvagem era mais um ser humano comum, sendo penetrado pelo rígido órgão de algum pescador animalesco, enquanto buscava por peixes.

Em minha mente a metáfora era perfeita: deus assistia a destruição de tudo, enquanto os indivíduos chafurdavam e eram currados sem chance de defesa – nem mesmo impediam a curra ou limpavam a areia que entrava em suas bundas, não a percebiam, não viam que eram apenas meninos selvagens em busca de um maldito peixe que, por fim, morria na areia e era enterrado junto de bitucas e papelotes de cocaína cheios d’água.

As árvores, a areia e as pedras ainda se mexiam, como um conjunto de fractais que se autoprojetavam, se autodestruíam e se conformavam de novo, quando Dom Digon tentou me trazer de volta à realidade. “Está dia, precisamos voltar ao convívio com seres humanos”, determinou. “Seres humanos, mas que droga, eles são tão chatos, quero ficar aqui...”, respondi, mexendo infantilmente na areia.

Minha negativa tomou outro rumo quando o Menino Selvagem retornou, inchado como um baiacu, coçando as penas, os braços, o tronco e todo e qualquer espaço de seu corpo. “Acho que sou alérgico a pernilongos”, disse ele, prestes a ter um choque anafilático e morrer ali mesmo, na praia. Dirigimos até o mercadinho mais próximo – ou seria o único? – e aguardamos que o abrissem. “Cacete, não me lembrava que esta revista foi projetada em três dimensões”, disse eu, folheando um catálogo do Sesc. A vendinha finalmente foi aberta e o Menino Selvagem acabou sendo tratado com Dipirona Sódica, o único remédio à venda no mercadinho minúsculo do “Vilarejo...”.

Voltamos, por fim, ao convívio com humanos. A Baleia Fosforescente ainda fosforesce (em algum lugar do passado). Deus dormiu na rede por três dias seguidos e levantou-se somente para preparar drinks de vodka com energético, esperando o momento de ser conduzido de volta ao mundo real – pela Baleia Fosforescente. O Menino Selvagem ainda é currado, buscando por seu peixe, enquanto é quase morto por pernilongos sugadores de sangue; ainda é tratado com Dipirona, mesmo existindo o maleato de dexclorfeniramina

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Em busca do verdadeiro rato - editorial da edição 780 do jornal Ponto Final

Que a revista Veja é uma piada de mau gosto, qualquer indivíduo pensante sabe. Mas – como já se previa – os moldes impositivos da dita publicação direitista tomou, nos últimos tempos, proporções bestiais.  Eis que um economista, metido a jornalista, resolveu montar um espaço online voltado a combater o pensamento de esquerda. O sítio está estabelecido, claro, no portal da Veja. O nome do sujeito, Rodrigo Constantino. O blog, “analises de um liberal sem medo de polêmica”.



Os textos e os comentários são unilaterais, sem espaço para contraposições. Os liberais detêm o osso e não pretendem largá-lo. Taxam o comunismo como criminoso, sem ao menos ponderar o assunto pela ótica da análise imanente dos textos relacionados. Afirmam que o marxismo é uma doutrina, sem se darem conta da doutrina que impõem ao criticá-lo sem chance de defesa.

Como de costume, a burguesia considera-se detentora do progresso. Os grandes empresários, ao explorar o trabalho alheio, acham-se no direito de fazê-lo pelo simples fato de possuírem os meios de produção, e, portanto, serem os únicos com capacidade imediata para atingir o dito progresso.

É muito característico o ideário liberal segundo o qual a classe trabalhadora se beneficia por intermédio da atividade capitalista. Contudo, quem se beneficia mais largamente dessa atividade?

Dizem,os liberais por intermédio de economistas como Ludwig von Mises, que “o progresso do capitalismo não empobrece os assalariados de modo crescente; ao contrário, melhora seu padrão de vida”.  Na visão dos trabalhadores, a melhora do padrão de vida só pode ser compreendida como uma série de medidas paliativas para justificar o acúmulo excedente do valor produzido pelo trabalho proletário.

“Por que as massas seriam inevitavelmente induzidas a se revoltarem quando se sabe que elas estão tendo acesso a mais e melhores alimentos, habitações e vestuários, carros e geladeiras, rádios e aparelhos de televisão, nylon e outros produtos sintéticos?”. Pelo motivo simples, respondemos, nós os trabalhadores, de que a ideologia dominante é, invariavelmente, a ideologia da classe dominante. A falácia vendida ao povo é a de que este é o fim da história, o ápice da humanidade. Os problemas serão resolvidos gradualmente, dizem os liberais, inflando o bolo para dividi-lo – a gula liberal, entretanto, deixa somente migalhas ao proletariado.

Os liberais afirmam que a miséria se reduzirá à medida do crescimento do capital. Somente se esquecem de que a base do capital é o pauperismo. Sem a exploração do trabalho, não há capitalismo. E se isso é evolução, perguntamos: evolução de quem? Do gênero humano? Ou dos liberais e do capitalismo?

A vida somente pode ser embasada num fundamento básico: “de cada um, segundo sua possibilidade, para cada um, segundo sua necessidade”. Sem isso, a igualdade é falha – e, antes de ser igualdade, é sempre exploração.

Parabéns liberais! Vocês estão na crista da onda desde a Revolução Francesa, ainda se gabando do Sonho Americano. As crises financeiras, claro – dirão os liberais –, são culpa dos inadimplentes, desocupados, hippies que deveriam colocar gravata e trabalhar, pois são vagabundos. O sistema é inabalável. Perfeito! Os descontentes são “ratos” (como eloquentemente Constantino apontou em seu post relacionado ao Che Guevara, pego numa foto bebendo Coca-Cola - http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/comunismo-2/o-rato-na-coca-cola/).

Mas o nível de existência de vocês, liberais, remete mais fielmente a um roedor: o hamster, cujo nome vem da palavra alemã "hamstern" que significa "acumular" ou "armazenar" - uma referência ao que este mamífero faz com a comida. Isso lembra os liberais, que enchem as bochechas com o fruto de nosso trabalho para, mais tarde, regurgitar a parcela mínima nas classes subalternas, esperando, ainda, a ovação cega dos que, para eles, não são “ratos”, pois lhe servem como “ovelhas”.

Ficam aqui as desculpas aos hamsters, muito mais dóceis que os liberais.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A besta antimarxista está à solta - resposta a um blog da Veja

Rodrigo Constantino e seu livro "Privatize Já"
Eis que um liberal da revista Veja decidiu montar um espaço para descer o cacete nos marxistas, no Marx e no marxismo. Um post chamou a atenção pela imbecilidade do conteúdo (http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/socialismo/aluno-se-nega-a-fazer-trabalho-sobre-marx/): um aluno, de nome João Victor Gasparino da Silva, estudante do curso de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), se recusa a fazer um trabalho sobre Marx. Ao invés do estudo, entrega ao professor um “manifesto” (torto tanto em estrutura quanto em conteúdo) para justificar a própria ignorância e afirmar que a instituição busca doutriná-lo, utilizando professores comunistas maléficos.


Pior do que isso, o caso ganha repercussão e o dito liberal, chamado Rodrigo Constantino, resolve divulgar o caso. Fez sucesso entre a burguesada (e os infantilóides que os ostenta).

Os comentários deste que escreve foram sumariamente recusados (à exceção de um, que deu margem a uma resposta escabrosa, de um tal Flavio!).

Segue aqui a resposta dada pelo Cafife ao suposto ser-pensante – de nome Flavio – por intermédio dos comentário do blog de outro suposto ser-pensante, o Sr. Rodrigo Constantino.
(O texto do Flavio está ao fim do meu escrito)

A resposta:
É muito característico, Flávio, o ideário liberal segundo o qual a classe trabalhadora se beneficia por intermédio da atividade capitalista. Contudo, quem se beneficia mais largamente dessa atividade?
Você diz, por intermédio de Mises, que “o progresso do capitalismo não empobrece os assalariados de modo crescente; ao contrário, melhora seu padrão de vida”.  Mises não deve ter andado de transporte público! Trabalhado num chão de fábrica! Comido marmita... Pois, se o tivesse feito – ou ao menos buscado compreender – veria o imenso avanço que o capitalismo trouxe: Medidas paliativas para justificar o acúmulo excedente do valor produzido pelo trabalho proletário.

“Por que as massas seriam inevitavelmente induzidas a se revoltarem quando se sabe que elas estão tendo acesso a mais e melhores alimentos, habitações e vestuários, carros e geladeiras, rádios e aparelhos de televisão, nylon e outros produtos sintéticos?…”. Pelo motivo simples de que a ideologia dominante é, invariavelmente, a da classe dominante. A falácia vendida ao povo é a de que este é o fim da história, o ápice da humanidade. Os problemas serão resolvidos gradualmente, dizem os liberais, inflando o bolo para dividi-lo – a gula liberal, entretanto, deixa somente migalhas.

Os liberais afirmam que a miséria se reduzira à medida do crescimento do capital. Somente se esquecem de que a base do capital é o pauperismo. Sem a exploração do trabalho, não há capitalismo. E se isso é evolução, pergunto: evolução de quem? Do gênero humano? Ou dos liberais?

A vida somente pode ser embasada num fundamento básico: “de cada um, segundo sua possibilidade, para cada um, segundo sua necessidade”. Sem isso, a igualdade é falha – e, antes de ser igualdade, é sempre exploração.

Mas, parabéns liberais! Vocês estão na crista da onda desde a revolução francesa, ainda se gabando do Sonho Americano. As crises financeiras, claro – dirão os liberais – são culpa dos inadimplentes, desocupados, hippies que deveriam colocar gravata e trabalhar, pois são vagabundos. O sistema é inabalável. Perfeito! Os descontentes são “ratos” (como eloquentemente o colunista apontou em seu post relacionado ao Che Guevara tomando Coca-Cola - http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/comunismo-2/o-rato-na-coca-cola/).

Mas o nível de existência de vocês, liberais, remete mais fielmente a um roedor: o hamster, cujo nome vem da palavra alemã "hamstern" que significa "acumular" ou "armazenar" - uma referência ao que este mamífero faz com a comida. Isso lembra os liberais. Enchendo as bochechas com o fruto de nosso trabalho para, mais tarde, regurgitar a parcela mínima nas classes subalternas, esperando, ainda, a ovação cega dos que, para eles, não são “ratos”, pois lhe servem como “ovelhas”.

  
A Besta Fala:
Flavio - 30/09/2013 às 22:15

Constantino, um pouco de Mises pro Eduardo Kaze 08:31 pensar:

“Marx nunca embarcou na impossível tarefa de refutar a descrição feita pelos economistas do funcionamento da economia de mercado. Ao invés disso, sua ânsia era mostrar que o capitalismo iria, no futuro, levar a condições bastante desagradáveis. Ele tentou demonstrar que a operação do capitalismo inevitavelmente iria resultar, de um lado, na concentração de riqueza nas mãos de um número cada vez menor de capitalistas, e, de outro, no progressivo empobrecimento de uma imensa maioria.

Na execução dessa tarefa, ele iniciou seu raciocínio pela espúria ‘lei de ferro dos salários’ — de acordo com a qual o salário médio é aquela quantidade específica dos meios de subsistência absolutamente necessários para permitir, de maneira escassa, que o trabalhador possa sobreviver e criar sua prole. Essa suposta lei já foi, desde então, inteiramente desacreditada, e até mesmo os mais fanáticos marxistas já a abandonaram. Porém, mesmo que alguém estivesse disposto, pelo bem da argumentação, a dizer que tal lei é correta, é óbvio que ela não poderia de maneira alguma servir como base para uma demonstração de que a evolução do capitalismo leva ao empobrecimento progressivo dos assalariados.


Se, sob o capitalismo, os salários são sempre tão baixos a ponto de, por razões psicológicas, não poderem cair ainda mais sem que isso extermine toda a classe de assalariados, é impossível manter a tese apresentada pelo Manifesto Comunista de que o trabalhador “se afunda mais e mais” com o progresso da indústria. Como todos os outros argumentos de Marx, essa demonstração é contraditória e autodestrutiva. Marx jactava-se de ter descoberto as leis imanentes da evolução capitalista. A mais importante dessas leis, segundo ele próprio, era a lei do empobrecimento progressivo das massas assalariadas. É o funcionamento dessa lei que ocasionaria o colapso final do capitalismo e a emergência do socialismo. Quando essa lei for entendida como totalmente espúria, as bases tanto do sistema econômico de Marx quanto de sua teoria da evolução capitalista estarão acabadas.

Incidentalmente, temos de compreender o fato de que, desde a publicação do Manifesto Comunista e do primeiro volume de O Capital, o padrão de vida dos assalariados, nos países capitalistas, aumentou de uma forma sem precedentes e até mesmo inimaginável. Marx deturpou a operação do sistema capitalista em todos os aspectos possíveis.

O corolário do suposto empobrecimento progressivo dos assalariados é a concentração de todas as riquezas nas mãos de uma classe de exploradores capitalistas que existem em números continuamente decrescentes. Ao lidar com essa questão, Marx foi incapaz de levar em consideração o fato de que a evolução das grandes empresas e suas unidades comerciais não necessariamente envolve a concentração de riqueza em poucas mãos. As grandes empresas são, quase que sem exceção, corporações — precisamente porque elas são grandes demais para que poucos indivíduos sejam inteiramente os proprietários delas. O crescimento das unidades comerciais ultrapassou em muito o crescimento das fortunas individuais. Os ativos de uma corporação não são idênticos à riqueza de seus acionistas. Uma parte considerável desses ativos, o equivalente a ações preferenciais, títulos corporativos emitidos e empréstimos levantados, pertence virtualmente, senão no sentido do conceito legal de propriedade, a outras pessoas — a saber, os donos dos títulos, das ações preferenciais e os credores das dívidas. Onde essas ações e obrigações são mantidas por bancos e companhias de seguro, e esses empréstimos foram concedidos por esses bancos e companhias, os virtuais proprietários são as pessoas clientes dessas instituições. Da mesma forma, as ações ordinárias de uma corporação não estão, via de regra, concentradas nas mãos de um homem. Quanto maior a corporação, mais amplamente distribuídas estão suas ações.


O capitalismo é essencialmente produção em massa para satisfazer as necessidades das massas. Mas Marx sempre trabalhou com o conceito enganoso de que os trabalhadores labutam arduamente apenas para o benefício da uma classe superior de parasitas ociosos. Ele não percebeu que os próprios trabalhadores consomem, de longe, a maior parte de todos os bens de consumo produzidos. Os milionários consomem uma porção quase que insignificante daquilo que é chamado de produto nacional. Todas as sucursais das grandes empresas provêem direta ou indiretamente às necessidades do cidadão comum. As indústrias de luxo nunca se desenvolvem além das unidades de pequena ou média escala. A evolução das grandes empresas é, por si só, prova do fato de que as massas, e não os ricaços nababos, são os principais consumidores. Aqueles que lidam com o fenômeno das grandes empresas classificando-o de “concentração do poder econômico” não percebem que o poder econômico pertence ao público consumidor, de cujo consumo depende a prosperidade das fábricas. Na sua capacidade de consumidor, o assalariado é o cliente que “sempre tem razão”. Mas Marx declara que a burguesia “é incompetente em garantir uma existência para seu escravo dentro de sua escravidão”.

Marx deduziu a excelência do socialismo do fato de que a força motora da evolução histórica — as forças materiais produtivas — certamente ocasionará o socialismo. Como ele estava absorto naquele tipo hegeliano de otimismo, não havia qualquer necessidade em sua mente de demonstrar os méritos do socialismo. Era óbvio para ele que o socialismo, sendo a última etapa da história após o fim do capitalismo, era também uma etapa superior. Era uma blasfêmia absoluta duvidar de seus méritos.

O que ainda faltava ser demonstrado era o mecanismo por meio do qual a natureza produziria a transição do capitalismo para o socialismo. O instrumento da natureza é a luta de classes. À medida que os trabalhadores vão se afundando cada vez mais em decorrência do progresso do capitalismo, à medida que sua miséria, opressão, escravidão e degradação aumentam, eles são induzidos à revolta, e sua rebelião estabelece o socialismo.


Toda a cadeia desse raciocínio é despedaçada pela observação do fato de que o progresso do capitalismo não empobrece os assalariados de modo crescente; ao contrário, melhora seu padrão de vida. Por que as massas seriam inevitavelmente induzidas a se revoltarem quando se sabe que elas estão tendo acesso a mais e melhores alimentos, habitações e vestuários, carros e geladeiras, rádios e aparelhos de televisão, nylon e outros produtos sintéticos?…”


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O mais alto grau de sociabilidade experimentado

O deslocamento de estudantes na hora da entrada (ou da saída) da escola é uma ocasião interessante para análise do comportamento desse grupo. Hoje (terça-feira, 17 de abril de 2012), saía de casa após almoçar e voltava para o trabalho quando me deparei com um caso interessante neste âmbito.

Em minha rua, rota de passagem para escola Carlina Caçapava de Mello para muitos alunos, um grupo se aproximava. Neste, os do sexo masculino não estavam uniformizados e eram acompanhados por uma menina (com a camiseta da escola). Uma voz feminina é ouvida, chamando-os. Eles se detêm e constatam: “É a Raimunda” – a garota em questão estava acima do peso determinado como padrão de beleza atualmente. Um deles decreta: “Deixa ela aí”. Outro intervém: “Não! Ela vai trincar os cinco conto (dar R$ 5 – para compra de algo não definido na conversa em questão)”. Isso ocorre enquanto eu caminho na direção oposta. O grupo pára para aguardá-la e eu cruzo com Raimunda antes deles. Curiosamente, a menina dispara um som em seu aparelho celular antes de se encontrar com o grupo – um funk que não pude definir o que dizia.
O que constatar disso? Claramente, Raimunda utiliza tanto de artifícios financeiros (pagando coisas aos amigos) quanto de abordagem cultural (ouvir funk, por exemplo) para se integrar ao grupo que, dada a falta de uniforme e a clara posição anti-autoridade circunscrita na atitude de não se uniformalizar ou, em última análise, não corresponder às imposições burocráticas da escola, apresenta-se ao resto dos estudantes como o foco de resistência à massificação experimentada pela maioria frente a tal ato de autoridade, reconhecida na figura da escola. Estar nessa posição, de desafio ao domínio, incide numa popularidade fundamentada na percepção tácita dos alunos de que o tempo na escola não é voltado ao aprimoramento, mas sim, à restrição de suas potencialidades sociais que, no grupo, se desvirtua na atitude de enfrentamento ao sistema – sem saberem, afrontam um microcosmo da sociedade, dividindo-se em grupos antagônicos nos quais a ascendência e integração são conferidas a partir da similaridade entre os sujeitos. Raimunda ligou a música para denotar simpatia, não por gosto.
Uma notícia publicada no jornal Diário do Grande ABC também me chamou a atenção. Alunos desta mesma escola citada teriam se enfrentado fisicamente com estudantes de uma escola vizinha chamada Sesi – escola frequentada por alunos de renda superior aos do Carlina. Segundo a reportagem, os alunos relatam que as agressões começam por olhares de desaprovação praticados por ambos os lados, quando do encontro dos mesmos. Mais uma demonstração do enfrentamento de classes vivenciado em todos os âmbitos da sociedade e que, na efervescência da juventude, culmina no enfrentamento físico. Em outro momento da vida, o ódio experimentado por indivíduos pobres em detrimento aos ricos é manifesto sem reação – anônimo e condicionado.

Já frente à entrada de meu trabalho, duas meninas voltavam do Carlina. Ambas usavam fones de ouvido e caminhavam juntas, porém não se falavam. Ao passarem por mim, detectei mais um mecanismo de autoafirmação e culminante desejo de reconhecimento de si pelos outros: uma das garotas tinha o próprio nome estampado em letras garrafais na mochila que carregava. Tal atitude pode ser interpretada como uma maneira de satisfazer o desejo de aproximação aos demais indivíduos sem, no entanto, tal proximidade fundamentar-se empiricamente. Uma representação muito clara de que a simples percepção de si pelos outros já é encarado como uma busca de socialização. Tal prática é amplamente difundida na sociedade contemporânea, dadas suas características de isolamento dos indivíduos. Isolamento esse que é caracterizado, erroneamente, como o mais alto grau de sociabilidade experimentado pela humanidade, conectada a tudo e a todos, sem necessariamente ligar-se com ninguém. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O que acontece quando um ignorante resolve escrever


O texto abaixo pertence a Gregório Vivanco Lopes, advogado cuja ignorância gera distorções analíticas bizarras. Com todo respeito, senhor Gregório, volte aos livros.

O título do "artigo" é: Analise retrospectiva das manifestações de junho".

As manifestações de protesto ocorridas no Brasil em junho último encheram as ruas de numerosas cidades, prolongando-se ao longo do mês e adentrando julho.
    Iniciadas após um moderado aumento das passagens de ônibus, metrôs e trens suburbanos, as primeiras manifestações foram convocadas para pedir o cancelamento desse aumento. Elas eram lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL), praticamente desconhecido da massa dos brasileiros, mas profundamente revolucionário, no pior sentido do termo. Gerado nas obscuras entranhas do Fórum Social de Porto Alegre em 2005, o MPL é um movimento anárquico cujo objetivo é a implantação de uma sociedade autogestionária e ecológica que vá além do comunismo.
     Alguns grupos de militantes – qualificados por uns como infiltrados e por outros como fazendo parte dos planos iniciais para criar baderna, tornando os protestos mais incisivos – promoveram saques, destruições, roubos e vandalismos de todo gênero.
     A surpresa veio quando o movimento de protesto tomou características insuspeitadas. Primeiramente quanto ao número de participantes, acima de toda expectativa, e sua perseverança dias a fio; depois, quanto ao tipo de manifestantes, provenientes em grande número da classe média; por fim, quanto à pluralidade das reivindicações, muitas delas de caráter antes conservador que “progressista”.
     Na elaboração da miragem segundo a qual as manifestações visariam sobretudo ações em favor da esquerda, a presidente Dilma passou a receber militantes dos movimentos impropriamente chamados “sociais” (muitos deles, na verdade, anti-sociais), como se tais agremiações representassem a multidão que saiu às ruas!
     Os manifestantes de junho, jovens em sua maioria, um bom número de católicos, não se sentiam representados por nenhum partido político, sindicato de classe ou ONG de qualquer espécie. Muito menos pela imprensa ou pela CNBB.
     É interessante notar que esse divórcio entre a população brasileira que saiu às ruas e os políticos foi previsto já em 1987 pelo renomado líder católico de feliz memória, Plinio Corrêa de Oliveira, ao analisar os rumos que então vinha tomando o Brasil: “O divórcio entre o País legal e o País real será inevitável. Criar-se-á então uma daquelas situações históricas dramáticas, nas quais a massa da Nação sai de dentro do Estado, e o Estado vive (se é que para ele isto é viver) vazio de conteúdo autenticamente nacional” (ver revista Catolicismo, agosto/2013).
     Se quisermos apontar um denominador comum para o que ocorreu nesses ainda recentes dias, poderíamos dizer que foi a manifestação de um grande, de um imenso Descontentamento em relação aos últimos governos, que estão conduzindo o Brasil para um tipo de esquerdismo chavista que desagrada profundamente à população. Daí o divórcio entre o país real e o país legal.

(*) Gregório Vivanco Lopes é advogado e colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)





sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Crimes sem resposta - publicado na edição de hoje do jornal Ponto Final

Ricardo Ferreira Gama 
Os sucessivos casos envolvendo a força policial militar, passando pelo escabroso – e suposto – caso no qual uma criança de 13 anos assassina quatro pessoas da própria família de maneira premeditada e meticulosa, levanta uma questão: a polícia é competente – e responsável – o suficiente para deter tamanho poder? Os agentes da PM têm aporte psicológico e estrutural para representar, em suas figuras, o poderio do Estado e aplicar suas leis?

Cada vez mais a realidade tem apontado que não, e os abusos têm se ampliado em ascensão astronômica.

O caso da família morta, cuja manchete não poderia ser mais eficiente na mídia (Menino de 13 anos matou os pais e foi à escola), é só a bola da vez. Já aparecem relatos de uma suposta ação da mãe policial contra colegas corruptos, ladrões de caixas eletrônicos. Neste caso, é esperar para ver.

Mas como dito, isso é só a bola da vez, o crime do momento.

O relato a seguir foi encaminhado ao Ponto Final pelo Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em nota pela qual se posicionam em relação aos fatos seguintes. Cabe ao leitor tirar as próprias conclusões.

“Na quarta-feira, 31 de julho, Ricardo Ferreira Gama após responder a uma ofensa feita a ele por policiais, foi agredido pelos mesmos, na Rua Silva Jardim, Baixada Santista. Ricardo foi detido e levado. Questionados, os agentes da polícia disseram aos colegas do ‘infrator’ que o levariam ao 1° DP da cidade. Os amigos seguiram, então, para ao local.

“Lá chegando, o grupo formado por estudantes da Unifesp foi informado de que Ricardo fora levado ao 4º DP. E no 4º DP, que ele estaria na Santa Casa. Um labirinto de informações desencontradas se formava.

“Saídos da Santa Casa, onde realmente estavam os policias e Ricardo – soube-se depois –, os alunos foram avisados pelos próprios policias ‘agressores’ de que o rapaz tinha sido liberado. Tudo estava resolvido e Ricardo não teria feito Boletim de Ocorrência (B.O.), pois ‘admitiu’ não ter sido agredido.

“Um dos estudantes, na ocasião, quis ele próprio abrir um B.O. Foi prontamente intimado pelos policiais. Assustados, os estudantes foram embora.

“Chegando à Unifesp, local onde Ricardo trabalhava como funcionário terceirizado, os estudantes o encontram preocupado. Ele declara ter sido procurado em sua casa pelos policiais, que lhe disseram que se os estudantes não parassem de ir à delegacia, eles ‘resolveriam de outro jeito’.

“Um dia após o ocorrido, à noite, viaturas com homens não fardados rondavam a universidade. Pessoas também chegaram a ir pessoalmente pedir a funcionários vídeos que estudantes teriam feito da agressão, declarando que a falta de colaboração ‘seria pior’.


“Na madrugada de quinta para sexta-feira (2), quatro homens encapuzados deflagraram oito tiros em Ricardo, defronte à sua casa. O funcionário não resistiu aos ferimentos”.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Marina Silva joga a tarrafa para viabilizar a rede

Em meio a todos os problemas políticos vivenciados em nosso país, uma pergunta é providencial: necessitamos de mais partidos políticos? A Rede de Sustentabilidade, partido em vias de legalizar-se, cuja frente tem o rosto estampado de Marina Silva, vinda do Partido Verde, deixa um cheiro de oportunismo no ar. Diante da atual onde de protestos, a #Rede se auto-intitula como “instrumento partidário para colocar em prática uma nova política sonhada nas ruas, no trabalho, nas escolas e no coração de cada brasileiro”.


Para os que minimamente acompanharam as manifestações, ficou claro que os partidos políticos não eram bem vindos ali – fato deplorável que só demonstra o quão obtuso é o ideário popular (ainda mais quando manipulado pela mídia corporativista). E está aí o oportunismo. Em nenhum momento colocou-se, nas manifestações, a extinção da política. O estado ainda era o local no qual as problemáticas sociais se resolveriam e, na figura dos governantes, ainda encontraríamos uma rédea ideal para guiar nossos desorientados cascos.

Vem, então, a #Rede. Portador da “nova política”, um partido oriundo “de cidadãos e cidadãs que desejam ampliar a participação direta da sociedade nas decisões públicas e mudar o caráter e alcance da ação política para sintonizá-la com as demandas nacionais e com os desafios das crises globais que clamam por respostas urgentes”, diz anúncio oficial.

Mas, pergunta este humilde escrevinhador, como, dentro dos limites do governo representativo, um partido pode “ampliar a participação direta da sociedade nas decisões públicas” se a condição para a manteneção do sistema representativo é exatamente preservar os interesses da minoria em detrimento à maioria?

Está duvidando? Pois então veja se, em algum momento, frente às manifestações, algum político sequer considerou a possibilidade de reduzir o ganho dos empresários dos transportes. A redução sairá de nosso bolso, do bolso dos que trabalham e geram a riqueza da sociedade, como tudo nesse mundo.

E lá vem a #Rede! Eles estão quase lá, com 550 mil adesões online – diz o comunicado oficial. Mas a Justiça Eleitoral não aceita isso – ainda bem – e exige 491.656 adesões físicas. É tinta no papel. A Rede de Sustentabilidade comemora com um lamento: “conseguimos superar de modo tão surpreendente, em prazo tão curto, o anacronismo que exige, em plena era digital, aproximadamente meio milhão de assinaturas em fichas de papel para legalização de um partido (...) Até o momento, das fichas que encaminhamos à justiça eleitoral, obtivemos 102.000 certificações e já superamos o mínimo de assinaturas válidas exigido em pelo menos nove unidades da federação”.

Pois é, amigo leitor, Marina Silva, com sua tarrafa travestida de rede, está pescando muitos peixes. Estão, inclusive, dando um jeito de legalizar as adesões online. Não há dúvida de que conseguirão.

Pedem, eles da #Rede, que os cartórios sejam rápidos. “Temos nos deparado com dificuldades em alguns cartórios eleitorais”, afirmam. 

Batendo com luva de pelica, finalizam: “somo solidários com as necessidades de melhor aparelhamento da Justiça Eleitoral, mas solicitamos publicamente a essa instituição uma atenção especial ao prazo legal de 15 dias para que os cartórios procedam à certificação das declarações de apoio à legalização partidária. O cumprimento deste prazo legal é imprescindível para que a Rede Sustentabilidade possa obter o registro partidário a tempo de se apresentar como alternativa eleitoral em 2014”.

É, o ano que vem promete! (ser uma desgraça política maior ainda).

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Lá vem o Papa, Papa aqui, papo acolá...

O Papa Francisco chegou hoje. Mas a visita já vinha, desde sua confirmação, com um caráter específico: angariar jovens para o catolicismo – uma gula descomunal, pois se estima que, no mundo, 1,2 bilhão de indivíduos (40% disso na América Latina) optaram por tal religião.

E o discurso não haveria de ser diferente. Num português castelianizado, Chico apontou a juventude como a salvação da lavoura, como se o problema do mundo fosse de ordem moral, e não estrutural de um sistema econômico esgotado e incapaz de sanar as diferenças sociais – a fé, com seu poder redentor místico, é mais forte que o Capital (risos); a fé é base popular do capitalismo: a fé na mudança de vida, a fé na ascensão social (impossível ascensão social), a fé num deus salvador que, por sua misericórdia, acolherá os pobres e repudiará os ricos (é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino do céu, já dizia a bíblia comicamente).

Cheio de mimos, com um rosto bonachão, o Papa afirma que “Cristo bota fé nos jovens”. Quem bota, caro Chico, é galinha! “Venho para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração”, diz ele – mas deixemos a ingenuidade:  para cada chama que arde fraternamente no coração, suprime-se o oxigênio necessário ao fogo revolucionário da real mudança.

Aí, então, chega nossa Dilma Rousseff, exaltando a “renovação” e a “esperança” por intermédio dos “valores”. Quais “valores”, dona Dilma? Os religiosos? Devem ser, pois, ela mesma afirmou, “as pastorais católicas têm sido importantes parceiras da autoridade brasileira na promoção da defesa dos direitos da criança e do adolescente”. Caralho bicho, é uma mão balançando o berço e a outra apalpando as partes pudendas das criancinhas.


A juventude não pode salvar nada somente com o amor no coração. Ninguém pode. Essa é a falácia, a mentira predeterminada segundo a qual os poderosos continuam poderosos e os miseráveis continuam miseráveis. Mas se acalmem pobres, a fé remove montanhas – e no lugar delas construiremos shopping centers e bancos multinacionais.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O segredo do universo - somos a fazenda de formigas de Deus!

Imagine a seguinte situação hipotética: a humanidade atinge grau tecnológico para desenvolver, em nível molecular, uma réplica de nossa galáxia. Nessa “maquete”, semeamos parâmetros de desenvolvimento humano num dado planeta – com condições pré-definidas para tanto – com fins diagnósticos. Tal análise, no entanto, para ter condições de exame, necessitaria que a vida instalada no citado planeta decorresse de maneira acelerada em relação a nossa. Com isso em mãos, seria possível delinear e identificar momentos confusos de nossa genealogia, como por exemplo, o elo perdido que separa o homem do ancestral primata. Alguma dúvida de que, sob condições ideais, assumiríamos a empreitada?


Num segundo momento, aceitemos que isso tenha sido feito. Porém, não por nós, mas por uma civilização acima da nossa. O projeto de pesquisa: a Terra. Sob esta hipótese, o nosso chamado Deus seria não mais que um grupo de cientistas analisando, num microscópio, a vida no planeta. Colhendo dados sobre o desenvolvimento da raça que, todavia, também é a deles.

Assim como uma mosca desenvolve seu ciclo de existência em um só dia em relação a nós, desenvolvemos o nosso em anos que, relacionados aos nossos espectadores (Deus), são, por exemplo, minutos [1]. A percepção que temos do tempo, no entanto, tal qual a da mosca em relação a si, não é afetada: o pressuposto da existência não é o período, mas a realização da subjetividade da espécie. Em outras palavras, a efetivação de um ciclo de existência é calcada na reprodução da natureza, e a sensação que individualmente experimentamos do tempo é relacionada a essa concretização latente em nosso subconsciente.

Por fim, somos a fazenda de formigas de Deus!





[1]  A teoria de Einstein de que um indivíduo viajando fora de nosso planeta sofreria os efeitos do tempo de maneira diferenciada pode, talvez, ser aplicada a essa hipótese.

terça-feira, 16 de julho de 2013

O jornalismo não salvará o dia, nem o dia salvará o jornalismo


Com a proposição de ser objetivo, o jornalismo tem determinado seu destino como algo pasteurizado, sem conteúdo humano. A realidade, meus caros, é irrelevante. Dados, planilhas, organogramas e declarações de gaveta tomam o espaço da efetiva informação. A notícia está longe da realidade e, sob a alegação de passar apontamentos ao qual o público em geral não tem acesso, a reportagem apenas aponta o que se quer que seja apontado, da parte dos meios interessados (administrações públicas, corporações midiáticas, gestores e, por que não, jornalistas interesseiros e artistas inquietados).

A mídia regional – como, por exemplo, a do ABC – está inserida nos moldes predefinidos pelas grandes mídias. São, de um lado, organizadas segundo trustes da notícia e, de outro, segundo lobbys administrativos. Aos jornalistas, meros agentes vazios sem direito a opinião, designa-se a função de acólitos deste formato medíocre de reportar os fatos.
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Pois que vire blogueiro, amigo jornalista, ou, quem sabe, colunista  caso queira escrever o que vê de fato – ainda que este último seja um indivíduo pseudo-opinativo, na maioria das vezes. De resto, lamba as botas e, pior, assine a lambida – pois, caso alguma merda aconteça, o veículo “não reflete opiniões expressadas em matérias assinadas”.

Mas o ato de blogar também é perigoso, vide os processos que rondam profissionais que, supostamente, atacam a “honra” de pessoas influentes.

E o que de fato é a “honra”? O que de fato especifica o que deve ou não ser dito, tratado ou revelado?

Ao ver deste humilde escrevinhador de textos, parece que só tem honra quem tem poder – apesar de que só tem poder quem não tem honra.

A definição de honra, no dicionário, é ampla. Ao invés de apegarem-se, os que se dizem desonrados, na acepção de probidade, virtuosidade, justiça social ou coragem, aplicam seus processos pelo ataque ao lado mais vazio da honra, acentuado na glória, fama e reputação. Pois, aos que a reputação não condiz com a prática real, que sejam desonrados e expostos.

Bela utopia e ingenuidade essa... A vida é pautada pelo vazio da reportagem como maneira de controle das consequências dos fatos ipsis litteris. Enquanto houver poder que governe as formas, os métodos e as maneiras pelas quais uma ocorrência deve ser relatada, um manual de boas maneiras e decoro, a única coisa que os receptores da notícia terão são as notícias que os noticiados noticiariam. Ou seja, a mentira predeterminada de acordo com as respostas esperadas. A teoria formulada sem os dados, para que os dados se ajustem a teoria - deveria ser o contrário (ou melhor, só ao contrário a verdade se fundamenta).

Os leitores estão ávidos por realidade. E é esta avidez que assusta os noticiados. A mídia regional deveria ser o foco saciatório dessa vontade. Contudo, a existência do poder financeiro - e a necessidade de existir segundo ele -  faz com que seja o inverso. Mas quem liga para a contradição num mundo de cabeça para baixo?