Quando em 2011 Ariano
Suassuna trouxe sua aula show a São Bernardo do Campo, lembro-me de avaliar seu
aspecto frágil e determinar: esse está com o pé na cova! Estava redondamente
enganado. Por mais de uma hora o escritor esbanjou disposição e alegria, cravando
frases certeiras e arrancando risos que nasciam aos borbotões entre as centenas de pessoas que ocupavam o Teatro Lauro
Gomes. Em minha mente, ficou estabelecida a abertura do espetáculo: “Divido a humanidade em duas metades”, afirmou Ariano, “de um
lado estão os que gostam de mim e concordam comigo, do outro estão os
equivocados”. Naquela noite, após a aula, não sobrou um único
equivocado no local.
A
apresentação se encerra e uma assessora de imprensa comunica aos jornalistas: “Ariano
vai receber vocês no camarim, mas sejam breves, ele está bem velhinho e muito
cansado”. Mais um erro de avaliação: Suassuna respondeu às perguntas com
desenvoltura, sem nenhuma partícula de canseira. Eu estava mais caído que ele.
Não havia
planejado qualquer pergunta para Ariano quando seus olhos ligeiros, cobertos por
aquelas sobrancelhas enormes, me encontraram entre os jornalistas. Era minha hora,
mas não tinha nenhuma questão – todas as minhas dúvidas haviam se encerrado
após o show. Mesmo assim, arrisquei uma pergunta: e o livro novo? A resposta
foi direta: “xiii, meu filho, ta longe, nem sei se termino ele vivo”. De fato,
estava certo novamente e a cadeira 32 da Acadêmia Brasileira de Letras não será mais sentada por talento igual.
Imagino
agora Suassuna se explicando com Deus. “Porra Suassuna, que demora, tamo te
esperando aqui faz tempo”, diz o Criador que, curioso, indaga por fim: “que
te deu pra ficar tanto no mundo?”. Ariano dá de ombros e situa: “Não sei,
só sei que foi assim!”.