por: Marcelo Mendez (o Hunter do Cafife!!!)
Em tempos de “Padrão Fifa”, de
elitizações esdrúxulas, de grama e de emoções sintéticas, se faz completamente
necessária a busca da essência que mantém o futebol vivo. Algo que seja de fato
verdadeiro e nesse ínterim, nada é mais pleno que um campo de terra batida. E
foi isso que encontrei.
Em um calor pleno de duas horas
da tarde, debaixo de um sol pra lá de escaldante, de fazer derreter qualquer
Lawrence da Arábia, vi uma bela e onírica pelada. Sim meus caros, era um jogo
de bola que não valia nada além do prazer, da sociabilidade em torno de uma
partida de futebol. Sentei em uma mesa da tendinha que serve de bar no campo.
Por lá pedi por uma cerveja e um simpático amigo me atendeu:
“Tem Itapaiva. Cinco conto”
Me serviu uma. Paguei e descobri
com ele que o jogo era um clássico entre Marandubas x Nóis Guenta Mé. Eram
times de amigos que se juntavam para bater uma bola e comer uma carne de
sábado. Fiquei a observar, dei um bom gole na Itaipava e de primeira já vi a
história se fazendo ali na minha frente.
No time do Nóis Guenta Mé, um
jogador de corpo franzino e muita vontade, vestia a camisa 7. E então lhe foi
feito um passe, certinho, bola correndo bonita, pelo campo de terra, facinha. O
amigo, com uma concentração de fazer inveja a monge tibetano olhava para pelota
marrom, vindo em sua direção e então... Furou!
Sim amigos, o nosso ponta direita
deu aquela furada épica de fazer corar! O jogo continuou e em outra ocasião ao
tentar matar a bola, deu de canela e assim seguiu; Correndo muito, suando e
dando galhofadas. Eis então que surge a coisa mais bela e mais fundamental para
o futebol de Várzea:
O Perna de Pau!
Amigo leitor que me acompanha
aqui nessas linhas vos digo de uma máxima perene:
A vida seria muito mais poética
se os homens de bem que habitam o mundo tivessem a dignidade de um perna de
pau. O canela dura é um onírico, um lúdico. Há nele uma honradez, uma decência
quase que comovente. Com a consciência de mau jogador de bola, o perna de pau
atinge os píncaros de uma retidão de caráter épica.
“Sai Parrão! Puta merda, ma como
é ruim!!”
E esse é o nome de nosso
personagem; Parrão!
Parrão corre, Parrão chuta.
Parrão faz lançamentos, Parrão bate escanteios. Parrão erra tudo! Mas ainda
assim afirmo:
Parrão é um Poeta!
Porque o papel do Cronista não é
buscar o berro impresso fácil das manchetes que o futebol das grandes
corporações empurra goela abaixo, o esporte não é para isso. Se apenas
existisse essa forma elitizada de ver e praticar o futebol, como estaria o
nosso amigo Parrão? Jogaria ele no Corinthians, no Palmeiras ou num Mirassol da
vida? Dariam ao nosso personagem uma camisa 7 para ele dar suas espetacadas?
Pois é...
Na várzea Parrão joga. E sem
Parrão a várzea não existiria. Para esse universo aqui retratado Parrão tem a
importância que Paul Desmond tinha no Dave Brubeck Quartet em sessões de Jazz
alucinantes. Porque só com tudo que há de mais épico na perna de pau de Parrão,
pode haver aqui uma crônica para os senhores lerem. Sem isso, estaríamos aqui
tratando de obviedades objetivistas tolas e sem encanto, mas não...
O Perna de Pau é um Santo!
Por tudo isso, eu estufo meu
peito, acerto minha postura e digo do fundo de meu coração feliz da vida:
Parrão, eu te amo!