quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A GRANDIOSIDADE ÉPICA DE PARRÃO E O BLUES DO PERNA DE PAU...

por: Marcelo Mendez (o Hunter do Cafife!!!)

E eis que tal e qual as câmeras de Michelangelo Antonioni saiam em busca da boca de Monica Vitti, eu, meu bloquinho e minha caneta bic, saímos atrás da sagração das chancas possíveis da várzea nossa. Fui parar no campo do XV do Capuava em Santo André. Uma boa escolha...

Em tempos de “Padrão Fifa”, de elitizações esdrúxulas, de grama e de emoções sintéticas, se faz completamente necessária a busca da essência que mantém o futebol vivo. Algo que seja de fato verdadeiro e nesse ínterim, nada é mais pleno que um campo de terra batida. E foi isso que encontrei.
Em um calor pleno de duas horas da tarde, debaixo de um sol pra lá de escaldante, de fazer derreter qualquer Lawrence da Arábia, vi uma bela e onírica pelada. Sim meus caros, era um jogo de bola que não valia nada além do prazer, da sociabilidade em torno de uma partida de futebol. Sentei em uma mesa da tendinha que serve de bar no campo. Por lá pedi por uma cerveja e um simpático amigo me atendeu:
“Tem Itapaiva. Cinco conto”

Me serviu uma. Paguei e descobri com ele que o jogo era um clássico entre Marandubas x Nóis Guenta Mé. Eram times de amigos que se juntavam para bater uma bola e comer uma carne de sábado. Fiquei a observar, dei um bom gole na Itaipava e de primeira já vi a história se fazendo ali na minha frente.
No time do Nóis Guenta Mé, um jogador de corpo franzino e muita vontade, vestia a camisa 7. E então lhe foi feito um passe, certinho, bola correndo bonita, pelo campo de terra, facinha. O amigo, com uma concentração de fazer inveja a monge tibetano olhava para pelota marrom, vindo em sua direção e então... Furou!

Sim amigos, o nosso ponta direita deu aquela furada épica de fazer corar! O jogo continuou e em outra ocasião ao tentar matar a bola, deu de canela e assim seguiu; Correndo muito, suando e dando galhofadas. Eis então que surge a coisa mais bela e mais fundamental para o futebol de Várzea:
O Perna de Pau!
Amigo leitor que me acompanha aqui nessas linhas vos digo de uma máxima perene:
A vida seria muito mais poética se os homens de bem que habitam o mundo tivessem a dignidade de um perna de pau. O canela dura é um onírico, um lúdico. Há nele uma honradez, uma decência quase que comovente. Com a consciência de mau jogador de bola, o perna de pau atinge os píncaros de uma retidão de caráter épica.

“Sai Parrão! Puta merda, ma como é ruim!!”
E esse é o nome de nosso personagem; Parrão!
Parrão corre, Parrão chuta. Parrão faz lançamentos, Parrão bate escanteios. Parrão erra tudo! Mas ainda assim afirmo:

 Parrão é um Poeta!

Porque o papel do Cronista não é buscar o berro impresso fácil das manchetes que o futebol das grandes corporações empurra goela abaixo, o esporte não é para isso. Se apenas existisse essa forma elitizada de ver e praticar o futebol, como estaria o nosso amigo Parrão? Jogaria ele no Corinthians, no Palmeiras ou num Mirassol da vida? Dariam ao nosso personagem uma camisa 7 para ele dar suas espetacadas? Pois é...

Na várzea Parrão joga. E sem Parrão a várzea não existiria. Para esse universo aqui retratado Parrão tem a importância que Paul Desmond tinha no Dave Brubeck Quartet em sessões de Jazz alucinantes. Porque só com tudo que há de mais épico na perna de pau de Parrão, pode haver aqui uma crônica para os senhores lerem. Sem isso, estaríamos aqui tratando de obviedades objetivistas tolas e sem encanto, mas não...
O Perna de Pau é um Santo!

Por tudo isso, eu estufo meu peito, acerto minha postura e digo do fundo de meu coração feliz da vida:

Parrão, eu te amo!

A vida é boa quando se goza com gozação

A trilha sonora jazzística ainda reverberava na mente dele e a imagem da garota surtia-lhe um efeito anestesiante. Entre ascendentes e luas, ouviu dizer que sua cobiça era fundamentada na vontade pura e simples – os astros lhe diziam que qualquer paixão o divertia, mas não podia ser, não com ela... Entre mãos e bocas o filme terminava, e os risos soltos prometiam perenidade. “Já disse que você me faz sorrir?”, ele ouve sussurrado em seu cangote. Seu coração dispara e numa bitoca ele toma-lhe o pulso buscando empate – ambos acelerados.

Blue moon / You knew just what I was there for / You heard me saying a prayer for / Someone I realy could care for...

Havia então uma vida de promessas casuais, muitas sem espaço ou tempo, sondagens inocentes e aproximativas... Um sofá, uma TV, um jantar e cumplicidades identificadas.  

Algumas lições aprendidas: francesas jovens podem levar Cate Blanchett à loucura (e o Xanax também). Mais vale um homem que arranca o telefone da parede num acesso de raiva a um que em espasmos românticos lhe esconde a esposa. A felicidade pode estar num pedaço de pizza repartido (o qual jocosamente se disputa) e a amargura numa pretensão inatingível. “Eu mesma fiz isso comigo!”, constata a protagonista no decorrer de uma DR mais que merecida. Fica a preleção woodiana: A vida é boa quando se goza com gozação...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Atenção, não alimentem os jornalistas

Jornalista aguarda, esfomeado, início da reunião
Regra número um para atrair jornalistas: seja alguém que os chefes dos jornalistas gostariam de ser. Número dois, comida – bebida é melhor, mas o álcool quebra o decoro da maior parte dos seres “dignos” de reportagem...

Um conjunto dos dois levou uma série de profissionais da imprensa ao gabinete do presidente da Câmara dos Vereadores de Santo André, Donizete Pereira, na última quinta-feira (12). O objetivo do parlamentar: apresentar o levantamento das ações da Casa – algo tão chato, que provavelmente não teria atraído ninguém caso o encontro não fosse tratado como “Café da Tarde” (e isso mesmo com o político em questão tendo dependurado em seu órgão genitor dezenas de editores).

O resultado prestado pela assessoria aponta que 49.171 pessoas compareceram às reuniões do Legislativo no segundo semestre de 2013. Segundo Pereira, isso se deve as ações de marketing da Câmara, que agora tem Facebook, Twiter, Instagran, conta no Lulu e o caralho... É tão internética a Câmara, que rivaliza com grande parte das adolescentes de 15 anos, ávidas em fotografar-se no espelho – os parlamentares, porém, tentam olhar o mínimo possível o próprio reflexo, para evitar constrangimentos psíquicos.

Os números não param – e como gostam de números essas pessoas; no fim, porém, a Câmara parece uma grande calculadora e a cidade uma grande fossa. Os vereadores criaram e votaram 40 matérias. De julho a dezembro, passaram pelo Legislativo 3.192 proposituras – e nenhum dos jornalistas aguentando mais ouvir tanta besteira na sala, só pensando em atacar os lanchinhos vindos da Padaria Brasileira.

Não vou encher os leitores com esse bando de dados. Por fim, só os resultados importam e esse pessoal da Prefeitura tem que trabalhar mais e aparecer menos. Volta e meia aparece um release na redação do jornal sobre a limpeza dos bueiros, os buracos tampados, a coleta de lixo, como se fossem notícia. Ora, meus caros, parem de buscar publicidade. Essas merdas são nada mais que a obrigação de vocês. Ótimo as pessoas saberem das ações do governo, mas essas são tratadas como glórias conquistadas, não direitos inatos. E mais...

Reticências, a boca se cala e se enche de pão com salame e suco de laranja. De repente, todos são grandes amigos frente à mesa de frios preparada pela Presidência da Câmara. Alimentados, os jornalistas felizes falam bem, aprenderam os políticos já nos primórdios da sociedade... E VIVA A CÂMARA, VIVA DONIZETI, VIVA, VIVA, VIVA O PÃO COM PRESUNTO...