Então Gonzo percebeu que possuía tantas coisas, que não
sobrava espaço para si. Havia um grande armário repleto de tranqueiras, havia
centenas de revistas já lidas e empilhadas, livros que não serviam mais nem
para a consulta, toda uma vida entulhada num quarto minúsculo... A vida estava
apertada.
No tocante ao ser humano, percebeu que se armazena muito
mais que o necessário – e os sentimentos ficam lá, embutidos nas quinquilharias
inúteis. Trocou tudo por uma mala, pois assim, estaria sempre pronto para
partir. Nada mais de amarras materiais. Era hora de ser capaz de carregar tudo
que lhe pertencia – e tudo que lhe pertencia era somente ele mesmo, suas ideias
e suas paixões. Três calças, sete camisas, duas blusas e um paletó, meias e
cuecas, um par de sapatos, óculos e chapéu. Manteria sua escrivaninha e o computador, a TV e a
estante de livros – somente os importantes. Estava, então, disposto a estrada –
mesmo em casa, nunca mais estaria preso.