sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Por que o trabalho é um castigo?


Chego à redação por volta das 9h e lá está nossa diagramadora contabilizando as férias que pretende solicitar em janeiro. Ela me apresenta o cronograma e esclarece o método pelo qual, segundo ela, se tornará possível entregar todas as publicações da editora dentro do prazo. Há na diagramadora uma energia juvenil, é como se houvesse no âmbito do vigor uma alegria triunfante.

Penso então nas formas do trabalho e na maneira como encaramos a labuta diária.

Labuta, inclusive, é uma palavra feia. Foneticamente, pra mim, tem o som de uma chicotada ou de qualquer coisa que esfola a carne. Para o dicionário Houaiss, labuta começa como um substantivo feminino que significa “trabalho árduo e penoso, lida, canseira”. A derivação por extensão de sentido da palavra, todavia, é apontada no léxico como simplesmente “qualquer forma de trabalho”.

Em que período histórico da humanidade, então, a aflição foi convertida em sinônimo de trabalho, e vice e versa? Quando determinamos que o trabalho é necessário para a felicidade, mas que a felicidade só é obtida fora do trabalho? Por que a base da sociedade humana tem de ser uma pena para a sociedade humana, quase um castigo diário pelo qual devemos passar caso queiramos obter as coisas que nos cercam?

Karl Marx, filósofo alemão do século 19, disse certa vez que “o trabalho não é a satisfação de uma necessidade, mas um meio para satisfazer outras necessidades”. Acrescento: essas “necessidades” que buscamos saciar são parte de um processo no qual as demandas são criadas para serem perseguidas, e de repente, todos somos fisgados para uma realidade na qual a posse de um bem de consumo torna-se a necessidade em si, e o conteúdo que se dane – queremos sapatos cujo “brilho” supera a durabilidade.

Esse mesmo alemão chamou esse processo (ou algo parecido com isso! Estou um pouco confuso!) de alienação – leiam os “Manuscritos econômicos filosóficos”, de Marx, não vai arrancar pedaço e garanto que você não vai querer abrir mão da sua casa e dividir o seu dinheiro, como garantem os ideólogos do anticomunismo. O sociólogo brasileiro Ricardo Antunes, no livro “O Caracol e sua concha”, sintetizou o tema. Para ele, o ponto crucial está na centralidade do trabalho na sociedade atual. O trabalho é, segundo Antunes, um elemento historicamente determinado, essencial para a existência do homem.

Mas sem precipitações, patrões exultantes frente à afirmação, Marx complementa: “Quanto mais o trabalhador se desgasta trabalhando, tanto mais poderoso se torna o mundo objetivo, alheio que ele cria diante de si, tanto mais pobre se torna ele mesmo, seu mundo interior, e tanto menos o trabalhador pertence a si próprio”.

Traduzindo: quanto mais você trabalha, maior fica o bolo que você nunca irá comer.

Sem mais!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Debater é preciso (ainda mais a política)



Na última segunda-feira (1°) foi realizado, na Câmara de Vereadores de Santo André, o debate “Reforma Política – os caminhos para uma política melhor”, idealizado pelo vereador andreense Eduardo Leite, que convidou o Ponto Final para participar da empreitada, auxiliando na elaboração do tema e da lista de convidados. (Veja matéria nesta edição).

O evento lotou a Casa e foi, em quase todos os aspectos, um sucesso. Digo “quase”, pois me recordo que no período da faculdade, quando cursava Ciências Sociais na Fundação Santo André e participava de eventos com microfone aberto, já tinha a mesma impressão da obtida na Câmara: o poder de objetividade e síntese dos seres humanos, quando em grupo, é extremamente defasado – talvez isso seja um fenômeno da ansiedade gerada pelo momento, algo enraizado no medo que se pendura nos calcanhares da coragem quando se fala em grupo, e as ideias começam num lugar, e acabam noutro totalmente diferente, sem conexão entre eles.

Mas esta impressão é coisa de quem tem de “encher linguiça” na coluna do jornal, e não tira de forma alguma o mérito do evento – é preciso debater o Estado sempre, quanto mais, melhor.

Sim, o evento foi um sucesso!

A necessidade de melhorar a política brasileira é patente e isso foi consenso na ocasião, salve um adendo aqui, outro lá. Os motivos que levam a essa reforma, esses sim, foram motivo de altercações diversas. Particularmente, entendo que no interior de uma reforma, seja ela qual for, todos querem ser o “arquiteto”, garantindo com isso estabelecer os cômodos que lhes são pertinentes virados para aonde “bate sol” – neste caso, “todos” são os setores da sociedade civil, que são muitos para se elencar aqui (vamos em frente).
Reformar a política é uma necessidade, ninguém pode negar; nem condenar que cada um busque o melhor para o seu grupo, ato esse, natural dentro de um sistema político-econômico baseado em classes (e só nessas circunstâncias é natural tal impasse).

As palavras mais emitidas da noite foram “esgotado”, “moral”, “sistema” e “política”. As frases, na maioria das vezes, usavam duas delas por vez, em construções como: “É necessário recuperar a moral na política” ou “o sistema está esgotado”.

Bem, da minha parte, não acredito que o sistema (político e/ou financeiro) esteja esgotado. Para mim, nunca foi sequer coerente e, inevitavelmente está sendo exposto frente às novas possibilidades de comunicação fundadas na internet. O sistema já nasceu esgotado, uma vez que nunca, em nenhum momento da história da sociedade “moderna”, privilegiou os alicerces da civilização: o trabalhador – antes, a política está (e esteve) de mãos dadas com o capital privado e seus encantos monetários – e nessa conjectura, não é possível moralidade na política.

Contudo, mais uma vez, assim como navegar, debater é preciso, e Santo André sai na frente com suas naus, perante atitudes como as de Leite. Sim, o evento foi um sucesso!

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A cadeira 32 está vaga

Quando em 2011 Ariano Suassuna trouxe sua aula show a São Bernardo do Campo, lembro-me de avaliar seu aspecto frágil e determinar: esse está com o pé na cova! Estava redondamente enganado. Por mais de uma hora o escritor esbanjou disposição e alegria, cravando frases certeiras e arrancando risos que nasciam aos borbotões entre as centenas de pessoas que ocupavam o Teatro Lauro Gomes. Em minha mente, ficou estabelecida a abertura do espetáculo: “Divido a humanidade em duas metades”, afirmou Ariano, “de um lado estão os que gostam de mim e concordam comigo, do outro estão os equivocados”. Naquela noite, após a aula, não sobrou um único equivocado no local.

A apresentação se encerra e uma assessora de imprensa comunica aos jornalistas: “Ariano vai receber vocês no camarim, mas sejam breves, ele está bem velhinho e muito cansado”. Mais um erro de avaliação: Suassuna respondeu às perguntas com desenvoltura, sem nenhuma partícula de canseira. Eu estava mais caído que ele.

Não havia planejado qualquer pergunta para Ariano quando seus olhos ligeiros, cobertos por aquelas sobrancelhas enormes, me encontraram entre os jornalistas. Era minha hora, mas não tinha nenhuma questão – todas as minhas dúvidas haviam se encerrado após o show. Mesmo assim, arrisquei uma pergunta: e o livro novo? A resposta foi direta: “xiii, meu filho, ta longe, nem sei se termino ele vivo”. De fato, estava certo novamente e a cadeira 32 da Acadêmia Brasileira de Letras não será mais sentada por talento igual.

Imagino agora Suassuna se explicando com Deus. “Porra Suassuna, que demora, tamo te esperando aqui faz tempo”, diz o Criador que, curioso, indaga por fim: “que te deu pra  ficar tanto no mundo?”. Ariano dá de ombros e situa: “Não sei, só sei que foi assim!”.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Tucanos com as penas arrepiadas


Desperta agitação nos bastidores e inquietação no Palácio dos Bandeirantes pesquisa contratada pelo eterno, e hoje raquítico, apêndice do PSDB, o partido DEM (Democratas), e realizada por empresa da capital. Os dados apurados deixaram arrepiados os poucos cabelos do atual governador e pré-candidatíssimo a continuar no posto, Geraldo Alckmin. A queda de intenção de votos dos paulistas no tucano foi acentuada e parece ser persistente. Os dados levantados entre os dias 9 e 14 de maio apontam “apenas” 30% para Alckmin. Bom lembrar que no último Datafolha divulgado o tucano tinha 43%. Portanto, perdeu quase um quarto de uma pesquisa para outra.
Quem roubou eventuais eleitores de Alckmin foi o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Ele está caindo nas graças dos paulistas, particularmente do interior. O peemedebista conta hoje com a simpatia de 20% daqueles que declaram a preferência por um dos candidatos apontados na pesquisa.
Padilha, do PT, cresce, mas pouco, e tem 10% das preferências.
O pior dos mundos se desenha para os tucanos: perdem a fidelidade da classe média paulista, que começa a se identificar com Skaf e suas posições.
Regionais
Raimundo Salles, secretário no governo andreense, trabalha para que seu candidato a deputado federal, o atual deputado Alex Manente, tenha 15 mil votos em Santo André.
Salles, do PDT, secretário de prefeito do PT, é cabo eleitoral de deputado do PPS. Interesses acima de fidelidade é isso.
O magérrimo PRP (Partido Republicano Progressista) de Santo André está se esfacelando, mesmo tendo um vereador e a vice-prefeita como filiados. Atribuem a isso o assédio de outros partidos aos seus membros mais orgânicos. 

terça-feira, 20 de maio de 2014

O Poder paga pela mentira, custe o que custar

O quadro Proteste Já, transmitido e produzido pelo programa Custe o Que Custar (CQC), da Rede Bandeirantes, expôs na última segunda-feira (19) uma realidade gritante do jornalismo regional: o implícito controle da administração pública sobre os veículos de comunicação. Na reportagem, o jornalista Oscar Filho vai até o município de Lagoa Santa, em Minas Gerais, tirar satisfação sobre uma suposta nota oficial da emissora, emitida ao periódico Jornal Diferente, na qual limpa a barra do prefeito Fernando Pereira (PSB) e do secretário de Planejamento Urbano, Marco Aurélio Pereira, acusados, também pelo Proteste Já, respectivamente de ter dois salários na Prefeitura e de ligação com empresário vencedor de uma licitação milionária na cidade.

O jornal, após a exibição da matéria, apresenta aos leitores uma série de informações, segundo o CQC, inventadas. Insinua, nas linhas assinadas por Elvis Pereira, jornalista responsável pela reportagem, que o quadro faz parte de uma articulação política e, ainda, levanta questionamentos quanto à apuração e transmissão dos dados colhidos. Em outras palavras, o Jornal Diferente afirma que o CQC puxou sardinha para os denunciantes e não ouviu a população, e que tudo não passa de uma picuinha de ex-aliados do prefeito, que resolveram perseguir o antigo chefe.

A cena transcorre com uma patética perseguição de Oscar a Elvis, que termina numa delegacia de polícia. Os donos do jornal põem a culpa no jornalista, o jornalista não sabe o que dizer – entre um argumento falho e outro, simplesmente empreende a modalidade Forrest Gump, ou seja, corre.

O Cafife noticiou, em seu último post (http://cafife.blogspot.com.br/2014/05/bonome-compra-o-diario-do-grande-abc.html), a compra de uma parcela significativa do jornal Diário do Grande ABC pelo candidato a deputado estadual, Nilson Bonome. A matéria do CQC revela que os medos elencados pelo Cafife têm embasamento.

O controle da mídia regional por parte de políticos e empresários está fundamentado em uma questão simples: sem eles o jornal pequeno não tem grana para existir. A partir disto, assistimos à ascensão do jornalismo pastel, cuja base é o interesse dos que anunciam – e o anúncio é a única fonte de renda dos jornais, atualmente.

De tempo em vez, para bonificar o anunciante, algum jabacule é publicado, e os jornais são vistos repletos de matérias estúpidas que ostentam políticos, empreendimentos e empresários (não se engane! Tudo isso é pago, e BEM pago!)

Lógico, isso também ocorre na grande mídia, mas o método regional é mais tosco e evidente. Os rabos presos nas províncias são bem mais curtos que no âmbito nacional. Pode ser – não podemos excluir qualquer possibilidade – que a Band também tenha seus interesses na denúncia em questão. Mas o contundente a ser entendido é que, aos leitores, expectadores e pessoas em geral, cabe hoje uma apuração dos fatos que devia ser exercida pelo jornalismo (ou seja, estamos fodidos!).


Mais uma vez, é patente que a seriedade se esvai com o abrir das carteiras, essas sim imparciais.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Bonome compra o Diário do Grande ABC

O pré-candidato a deputado estadual pelo PMDB, Nilson Bonome, adquiriu uma porcentagem significativa do jornal Diário do Grande ABC. A informação é de fonte que atua diretamente com o diretor-presidente do Diário – e um dos magnatas dos transportes na região –, Ronam Maria Pinto.

Bonome já era figura comum nos corredores do Diário. Após não conseguir vaga como chefe do Executivo andreense, sendo derrotado por Grana – o qual, inclusive, não apoiou no segundo turno, optando por Aidan – o político passou a circular no periódico sob o argumento de que, ali, instalara um escritório.

Estranho, não?

Se assumirmos que um ponto sem nó foi dado, podemos concluir que a proximidade com Ronan o levou à citada aquisição. Mas muito raramente fios desamarrados fazem parte do métier da política.

Pensando no lado eleitoreiro da coisa, ter o controle – ainda que parcial – do mais aclamado jornal da região é um negócio da china. E neste processo a decadência completa de tudo que o jornalismo representa – ou deveria representar – é inevitável. Infelizmente, hoje é comum que administradores de empresa controlem os jornais, e, inclusive, suas linhas editoriais – que, claro, se tornam condizentes com seus interesses econômicos. Normal: tudo é um produto no mundo moderno, principalmente a informação.

E se o asco do Diário em relação às administrações que não anunciam em suas páginas já é acentuado, a inclusão de um candidato em seu quadro de chefia provavelmente fará com que isso se torne a pedra fundamental do jornalismo praticado pela publicação.

Oremos, caros jornalistas! Peçamos ao santo protetor das redações - no meu caso é Hunter S. Thompson - que ilumine a mente dos leitores, pois dias pesarosos virão, e isso não estará escrito no gibi (que convenhamos, anda muito mais confiável que a maioria dos jornais!).


Procurado para comentar o caso, Bonome não retornou as ligações realizadas pelo Cafife.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Futuro reitor da Fundação Santo André nega existência de debate sobre federalização

“Não dei depoimento nenhum”
A existência de um debate para a federalização da Fundação Santo André foi descartada pelo futuro reitor da instituição, José Amilton de Souza. Por telefone, Amilton afirmou ao Cafife que as notícias veiculadas pelo jornal ABCD Maior referentes ao assunto são “equivocadas”.

“Não procede. Isso não existe. Esse debate morreu quando, entre 2002 e 2003, Odair Bermelho (então reitor da FSA), juntamente com setores da cidade, não aceitou a federalização. Não dei depoimento nenhum. Ontem (12/2) me ligaram aqui (do ABCD Maior) e eu disse que eles não estavam autorizados a colocar meu nome. Falaram que será debatido entre professores e funcionários da FSA (a federalização), mas não há debate nenhum. Se um dia vir essa possibilidade, isso será discutido. Mas por enquanto não tem nada”, declara Amilton.

De acordo com Amilton, o encontro ocorrido na última quarta-feira (12) com o prefeito andreense Carlos Grana foi para “a apresentação da nova equipe gestora da Fundação, que irá assumir em 1° abril, e para discutir parcerias e prestação de serviços visando à autossustentação do centro universitário”.

Indagado quanto à probabilidade da FSA ser federalizada um dia, o futuro reitor determina: “o que estamos fazendo enquanto reitoria é discutir todas as possibilidades. Nesse primeiro instante, voltamos nossas atenções para os cenários e possibilidades que situem a Fundação em seu presente. Todas as propostas serão analisadas e discutidas com o coletivo de professores, funcionários e alunos”.

Amilton assumirá o cargo atualmente ocupado por Oduvaldo Cacalano, reitor desde 2010. A primeira reunião de transição ocorre na próxima terça-feira (18). Hoje, a FSA possui uma dívida de R$ 18 milhões com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), avalizada pela Prefeitura, que utiliza parte do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para pagar a dívida, parcelada em 20 anos.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Matou a família e foi fumar maconha - porque odeiam baseado e amam aspirina?

No me gusta atacar textos ponto a ponto. Sempre me pareceu uma prática um tanto covarde e sem propósito. Porém, quando o escrito está em tópicos, que outra forma de proceder?


A pérola deste calorento início de semana chegou via e-mail. Os autores buscam apontar atitudes para reduzir o uso de drogas dentro de condomínios, utilizando da expertise fundada no fato de serem “ex-oficiais do exército e do serviço secreto israelense”, como indica a descrição do release (CARALHO!).

Os maiores prejudicados nessa caça aos bruxos são, SEMPRE, jovens em fase de experimentação da vida. Mas é claro, os pais sempre sabem, assim como os vizinhos, os policiais, os governantes e toda sorte de pseudo sapiens que se possa encontrar neste mundo moderno de Deus.

A primeira dica é “Evite discussões”. A ideia é mais ou menos caguete o pivete para a mãe dele e espalhe a notícia para todo o resto do condomínio. Eles continuam no mesmo tópico: “Ao perceber uma ação suspeita (aquele cigarro é industrializado ou de artista, se pergunta a vizinha fofoqueira), não interfira e informe imediatamente, e de forma discreta (sussurrando ao telefone), seu síndico, a equipe de segurança ou os responsáveis, no caso de menores”.

O segundo ponto, de tão mal encaixado, abriu precedente para um novo tópico. O autor afirma: “Para inibir essas ações, solicite a instalação de placas indicativas com os dizeres: ‘Sorria, você está sendo filmado’”. Então, pensa o autor: “talvez esses drogados não sejam tão burros quanto penso. Já que colocamos as placas, porque não as câmeras?”. Assim, desdobra o texto: “Solicite à administração que instale câmeras em locais que possibilitem essa prática”.

Mas claro, não é uma campanha antidrogas se não houver situações de exposição pública do problema. Sendo assim, vamos encher a cabeça de todo mundo com minhocas durante as reuniões de condomínio. “Peça ao síndico que aborde o tema em reuniões condominiais”. “Promova ou incentive o tema em reuniões condominiais”. “Promova ou incentive palestras educativas no condomínio”.


Que legal! Gostei particularmente da dupla opção dos dois últimos tópicos: “promova ou incentive”. Ou seja, se você não quiser promover a parada, encha o saco de outro para fazer no seu lugar! Afinal, o filho drogado é o dele, não o seu, que é um anjo!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Quem é Robsbaum Trilha?

Ele é bêbado e pervertido. Sua trajetória libertina é repleta de trepadas com mulheres sensuais, porres homéricos e brigas colossais. Seu nome é Robsbaum Trilha, o mais indecente ser vivo que já pisou no ABC.


Foi com surpresa que este que escreve atendeu o telefone numa certa madrugada e teve o prazer de ouvir a voz rouca e embolada de Robsbaum. “E aí, seu puto!”, disse ele. “To todo fodido”, continuou, “Tem alguma merda pra escrever aí?”. 

Sempre tem, respondi.

Acontece que o “estar todo fodido” de Robsbaum significa, nove em dez vezes, mulher. O encanto que exerce no sexo oposto é superado somente pela presença tóxica de seu caráter, e palavras como constância, segurança e prudência jamais foram incorporadas ao vocabulário deste iminente jornalista, o que por fim, juntamente ao seu alcoolismo proeminente, dava fim a todos os seus relacionamentos.

Sim, claro, Robsbaum Trilha exerce essa que deve ser a segunda dentre as mais antigas profissões do mundo – pois, surgida a categoria de prostituta, a de jornalista procederia naturalmente.

Mas Robsbaum é também um desgraçado! Reza a lenda que sua presença emana um fator de morte que destrói tudo ao redor – uma maldade, pois a verdade é que participou da decadência de tantas coisas, entre pessoas e lugares, não por ser o responsável pela bancarrota, mas por ser a última esperança aos desesperados (justificava ele).

Não se tem notícia de filhos ou casamento na vida de Robsbaum. Algumas paixões, certamente. Todavia, o amor sempre foi um “cão dos diabos”, parafraseava ele, resgatando o velho Buk, de forma que sempre manteve um cômodo espaçoso no coração, destinado a amar o amor em si, não a figura na qual o sentimento insiste em recair. Em outras palavras, o negócio de Robsbaum é meter, e só.

“Estou me mudando pra aí, consegue algum esquema pra mim?”, perguntou ele.

“Vou falar com uma galera!”

“Pode ser qualquer porra. Só quero pagar o aluguel e o bar!”

“Demoro!”

O telefone é desligado. Robsbaum vem aí!


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Deus nos quer todos aleijados!

Cientistas descobriram agora que é possível, com o uso de células comuns, criar células-tronco – essas que podem se transformar em qualquer tecido do corpo, ou algo assim... A polêmica com o uso das chamadas células pluripotentes é o método – anterior a este – de aquisição das mesmas, cujo processo inclui a criação e destruição de embriões humanos.


UMA BAITA BABAQUICE!

Falando sério, a controvérsia, por si só, é ridícula: dizer que embriões humanos são, a não ser potencialmente, pessoas, é o mesmo que deixar de comer ovos por considerar infanticídio galináceo. É essa mentalidade tacanha que permite a morte de milhares de mulheres em clínicas clandestinas de aborto.

Mas o novo procedimento é estudado exatamente em virtude dessa imbecilidade metafísica.

Não matemos as crias de Deus!

Sinceramente, se deus existe é, no mínimo, um rapaz bem controverso. O tipo de cara, que só para esnobar, pede café fervendo e o deixa esfriar (roubei essa do Millôr) – exatamente o que ele faz com a fé: exige sem dar nada em troca, a não ser esperança cega.

Alias, cabra EGOÍSTA esse Deus. O filho dele pode curar aleijado, a gente não?

Whatever!

Certas coisas só são amargas se as engolimos (valei-me Millôr!).


Hora de cuspir!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A mensagem visualizada, e não respondida, será o mal do século?

Que saudades dos dias de orelhão e ficha, quando a distância existia e impedia o imediatismo praticado hoje. O telefone era ainda um fetiche proponente a extinguir a correspondência – e engraçado, como no século 19, por carta, os pensadores justificavam tais títulos com muito mais profundidade do que atualmente o fazem os “cabeças” da humanidade.


O “sumiço” tornou-se, de repente, um pecado capital – digno de broncas e DRs astronômicas. Aquele cara que foi até a padaria comprar cigarros e voltou quatro dias depois é uma espécie em extinção – encontrada somente em modelos nascidos em meados da década de 1940... Os jovens estão sempre “encontráveis”.

Um artigo da jornalista Eliane Brum, publicado no site da revista Época – pois é, também fiquei surpreso por algo de qualidade estar ali – realiza uma análise interessante:  “Estamos vivendo como se tudo fosse urgente. Urgente o suficiente para acessar alguém. E para exigir desse alguém uma resposta imediata. Como se o tempo do “outro” fosse, por direito, também o “meu” tempo. E até como se o corpo do outro fosse o meu corpo, já que posso invadi-lo, simbolicamente, a qualquer momento”.

PORRA! É ISSO!

10:39 - “Oi, td bem?”
Mensagem visualizada às 10:39

10:40 – “Vc ta aí?”

10:40 – “Tá fazendo o que?”
Mensagem visualizada às 10:41

10:41 – “L Não vai responder?”
Mensagem visualizada às 10:41

10:41 – “Puto(a)!”

A mensagem visualizada, e não respondida, será o mal do século? Certamente psicanalistas têm lucrado bastante com essa funcionalidade dos novos métodos de conversação online. Para os internautas compulsivos deve equivaler ao “bater o telefone na cara”; ou, quem sabe, até mesmo àquele furo, no qual o sujeito fica plantado no restaurante beliscando pão e tomando água...


Tá aí, caro leitor, não é a toa que o Rivotril tem se tornado um dos medicamentos mais consumidos dos últimos tempos – e como num passe de mágica todos estão calmos, aguardando “infinitos” quinze minutos pela réplica a uma frase de suma importância, como “esse calor tá foda!” ou “você viu o canal 49 ontem, o cara caiu de cima de um balde...”. A velocidade está nos transformando em babacas histéricos. E agora dá licença, que vou ir comprar cigarros...

sábado, 25 de janeiro de 2014

Policiais e jornalistas: o encontro da coxinha e do pastel

Um saldo evidente da série de protestos ocorridos no ano passado foi a visibilidade pública dos casos de agressão policial. Em relação aos profissionais da imprensa, por exemplo, um estudo da associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), realizado em dezembro, aponta que dentre 113 casos analisados de violência deliberada contra jornalistas, 78,6% partiu de policiais – 77% deles ocorreram após o profissional se identificar como tal.

Nunca apanhei em protesto – correr da polícia é arte antiga no 2° Subdistrito andreense. Mas isso não exclui o fato dos coxinhas, sim, baixarem o cassete ao menor sinal de extensão do expediente – a polícia fica puta quando o protesto não acaba na hora ou ocorra qualquer exaltação .

E de onde surgiu a ideia de manifestações terem hora para começar e acabar?  – com certeza de alguma figura intelectualóide, postada entre a crença democrática e a prudência covarde.

Que seja!

De acordo com nota publicada na Revista de Jornalismo ESPM, o “estudo mostra que foram agentes do Estado os que mais tentaram inibir os jornalistas em seu trabalho por meio da força”. E quem nunca viu um policial sem identificação nos protestos? A borrachada é inominável! Impedir a reportagem é só mais um jeito de tirar o crachá (e com ele a responsabilidade).


A notícia se desdobra: “Críticos identificaram na hostilidade de alguns manifestantes contra repórteres ou veículos de suas empresas prova de que a sociedade rejeita a atividade (jornalística)”. Porra, lógico que rejeita! Ao menos os que participam da ação rejeitam, simplesmente porque a categoria de carboidrato frito não é exclusividade dos policiais, e tem muito jornalista que, para não chamar de coxinha – que fica melhor de farda – prefiro nomear como pastel – pipoca por fora e não tem nada dentro. E tenho dito!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Jornalista morre afogado - parada cardiorrespiratória foi causada por torrente de releases

Você chega na redação, maço de cigarros no bolso, pasta a tira colo, visão turva e rosto amassado e a primeira coisa que faz é ligar o computador.


A consulta ao Facebook é quase um tic nervoso e ocorre antes de qualquer coisa. Engraçado, mas a internet promove essa “proximidade distante” e, por mais que isso seja sabido, sentimos um enorme conforto ao constatar que todos estão juntos em algum lugar, mesmo que espectralmente – esse deve ser, também, o princípio da religião. Foda-se!

O próximo passo são os e-mails. “Crê em deus pai”, que desespero. Ser jornalista frente ao Outlook é constatar a morte iminente da profissão – ao menos a morte de tudo que é bom nela. Assessorias de imprensa parecem ter substituído o setor comercial das empresas, e, ao invés de pagarem pela publicidade, acreditam que podem nos fazer de idiotas colocando uma garotinha de 19 anos ligando e perguntando, com a maior inocência do mundo, se recebemos o release do revolucionário suco de tomates que rejuvenesce a pele. Vocês vão publicar?, questiona a menina que, pela voz, imagino com duas maria-chiquinhas, chupando pirulito. Sinceramente, não sei o que responder. Normalmente me faço de desentendido e digo que “a pauta será analisada por nosso editor”. Vai o cacete! Já deletei essa porra!

Mas não para por aí! Ser jornalista hoje é ter o intelecto relacionado ao de uma abóbora – e não são as de Halloween, porque essas pelo menos têm “cara” – e eis que surgem os concursos jornalísticos, promovidos por empresas que resolvem premiar reportagens – porra, mas é óbvio – exaltando o ramo por elas desenvolvido. Trófeu joínha pra vocês!

Nesse momento o jornalista já fumou quatro cigarros, entornou litros de café e pensou em suicídio – ou morar num lugar tranquilo, no interior (que dá basicamente na mesma) – umas quinze vezes.

O Facebook continua ali, em uma das abas do Google Chrome. De minuto em minuto o jornalista dá uma olhadinha – uma maneira sutil de pedir socorro é postar e compartilhar centenas de inutilidades; algo como jogar uma isca para ver quem se interessa para uma conversa que, por fim, será composta por tópicos sobre a agonia de trabalhar.


Tudo segue e, BINGO!, você ganha um carro pelo celular. “Envie uma mensagem para...”. O telefone toca e: “vocês vão mandar alguém para cobrir a posse do sub-vice-tesoureiro da presidência de sei lá que porra de empresa é essa!? Não, não iremos, estamos em fechamento de edição! Outro cigarro. Outro café. Toma água. Lava as mãos. Respira fundo... Um dia de cada vez!, o lema de oito em cada dez jornalistas, tanto no AA, quanto na redação.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Monique e a Gaivota


A Gaivota

Movimentado, mas não lotado.
Somente pessoas conversando.
Falando o que casais falam todas as manhãs.
Eu não tenho com quem falar. Não mais.
O garçom me trouxe o cardápio. Não olhei. Sei exatamente o que quero comer:
Gaivota.

Não gosto de gaivota. Ou pelo menos acho que não gosto.
Meu peito parece uma locomotiva enquanto espero.
Sinto uma fisgada na barriga e me lembro que não tem a ver com meu apêndice.
Ajeito “o grande dragão cromado cuspidor de fogo nove milímetros” em minha cintura e tudo volta ao normal.
De longe vejo o garçom saindo da cozinha carregando sua bandeja.
O prato que ele traz é grande.
Achei que fosse menor.
Ele coloca à minha frente e me olha com cara de: “Me agradeça logo e me deixe voltar”.
Eu digo que não quero beber nada.
Corto um naco grande de carne, o suficiente para encher a boca.
Sete mastigadas são o suficiente. Não há mais duvida.
Me desculpe, amor. Eu te amo.
O dragão cromado se enfurece.
E a escuridão me acolhe.

Plano de Voo

O mar é um Deus.
Se o que define um Deus é sua grandeza, o mar definitivamente é um Deus.
Ou se o que define um Deus é o beneficio que ele traz a humanidade... Imagine um mundo sem mar.
Mas olhando por esse ponto de vista o mar nos traz mais benefícios visíveis que o próprio Deus. Será que Deus esta no mar? Porém em contraponto o ar é mais importante que o mar.
Se colocarmos em uma escala de importância...
Toca o celular.
- Alô? Bom dia meu amor. Dormiu bem? Tinha certeza que sim. O que? O voo? Claro que está marcado. Isso, só eu você e as estrelas. Que? Quem vai pilotar? Ora, hahaha, claro que é um piloto, né amor. Hahaha, Mas ele fica em uma cabine isolada. Teremos toda privacidade do mundo. Não se preocupe, estou cuidando de tudo pessoalmente. Te encontro no porto às onze? Sabia que sim. Eu te amo. Eu sei que sim. Um beijo. Até logo meu amor.
Minha mãe sempre dizia que o melhor dia do casamento se passa na lua de mel. E o pior decorre desse em diante. É... Com certeza ela não era muito otimista. Já eu... Não conseguiria ver algo ruim nem que minha vida dependesse disso. Principalmente em meu amor. Sei que nunca a decepcionaria.
Opa, e falando em decepcionar... Melhor falar com o piloto e confirmar tudo.

O Voo

Onze horas!
O piloto está a posto.
Seguro um champanhe numa mão e um buquê na outra.
E fito apreensivamente a entrada do porto. Cada luz de farol que passa faz meu coração acelerar. Até que ele acelera sem parar e ela chega. Tão linda como se imagina que uma Deusa possa ser. Eu a abraço e peço desculpas pelo transtorno, ela se aperta junto a mim e diz que esta tudo bem. Sou um maldito cara de sorte.
O sonho dela sempre foi passar a lua de mel sobrevoando o mar. Como meus negócios nos atrasou, achei justo fazer a sua vontade. Meu sonho era uma cama inflável. Então mandei colocar uma em meu avião; batizado, não por acaso, de Monique.

A Deriva

Frio!
Tudo que sinto é frio.

Não sinto as pernas. Não sinto nada, só sinto o frio.
Abro os olhos e é noite. Minha lua de mel. Algo toma forma sobre mim.
O piloto.
Ouço quase que imperceptível seu balbuciar de palavras. Ele diz que ela resistiu, que nos salvou. Não sei exatamente do que esta falando. Tento perguntar de minha esposa, mas não consigo. Ele diz faz quatro dias. Diz algo sobre o tempo e como não há chuvas nessa época. Ele até parece animado. Diz que preciso me alimentar, que iremos resistir. E então traz alguma coisa até minha boca. E antes que eu me empenhasse em outra tentativa de falar, ele retruca: Você precisa comer, eu sei que esta com fome, coma vai. Achei no mar, é gaivota, eu comi, é bom, é gaivota, coma. E então eu comi, comi até me entalar, o gosto não era bom, era diferente, nunca me esquecerei desse gosto, mas mesmo assim comi com um apetite que nunca havia experimentado antes. E então percebi que estava em minha cama inflável, boiando no meio do mar.
Onde esta minha esposa?
O frio voltou.

O Resgate

No sexto dia me encontraram. Como que você sobreviveu, isso é incrível..., diziam médicos e jornalistas...

Queriam saber do que me alimentei. Peixes? Não, gaivota.
Um enfermeiro arrogante me diz que não existem gaivotas em alto mar. O senhor deve estar delirando, durma uma pouco. O medicamento é intensificado, eu apago, sonho com Monique.

Mais tarde me disseram que uma falha mecânica travou uma das turbinas, tentaram um pouso na água e o avião se estraçalhou. O piloto foi encontrado a quinze quilometro de mim. Ele ficou insano e nadou até a morte. É o que chamam de loucura marítima. Minha esposa morreu na queda. Não me deixaram ver seu corpo. Disseram que seria pior pra mim. Ela não estava como antes. Ela estava, como posso dizer, diferente. Ela havia sido parcialmente...
Devorada!
Devorada ?
Não existem gaivotas em alto mar...