Você chega na
redação, maço de cigarros no bolso, pasta a tira colo, visão turva e rosto
amassado e a primeira coisa que faz é ligar o computador.
A consulta ao Facebook
é quase um tic nervoso e ocorre antes de qualquer coisa. Engraçado, mas a
internet promove essa “proximidade distante” e, por mais que isso seja sabido,
sentimos um enorme conforto ao constatar que todos estão juntos em algum lugar,
mesmo que espectralmente – esse deve
ser, também, o princípio da religião. Foda-se!
O próximo
passo são os e-mails. “Crê em deus pai”, que desespero. Ser jornalista frente
ao Outlook é constatar a morte iminente da profissão – ao menos a morte de tudo
que é bom nela. Assessorias de imprensa parecem ter substituído o setor
comercial das empresas, e, ao invés de pagarem pela publicidade, acreditam que
podem nos fazer de idiotas colocando uma garotinha de 19 anos ligando e
perguntando, com a maior inocência do mundo, se recebemos o release do
revolucionário suco de tomates que rejuvenesce
a pele. Vocês vão publicar?, questiona a menina que, pela voz, imagino com
duas maria-chiquinhas, chupando pirulito. Sinceramente, não sei o que responder.
Normalmente me faço de desentendido e digo que “a pauta será analisada por
nosso editor”. Vai o cacete! Já deletei essa porra!
Mas não para por
aí! Ser jornalista hoje é ter o intelecto relacionado ao de uma abóbora – e não
são as de Halloween, porque essas
pelo menos têm “cara” – e eis que surgem os concursos
jornalísticos, promovidos por empresas que resolvem premiar reportagens –
porra, mas é óbvio – exaltando o ramo por elas desenvolvido. Trófeu joínha pra vocês!
Nesse momento
o jornalista já fumou quatro cigarros, entornou litros de café e pensou em
suicídio – ou morar num lugar tranquilo, no interior (que dá basicamente na
mesma) – umas quinze vezes.
O Facebook
continua ali, em uma das abas do Google Chrome. De minuto em minuto o
jornalista dá uma olhadinha – uma maneira sutil de pedir socorro é postar e
compartilhar centenas de inutilidades; algo como jogar uma isca para ver quem
se interessa para uma conversa que, por fim, será composta por tópicos sobre a agonia de trabalhar.
Tudo segue e,
BINGO!, você ganha um carro pelo celular. “Envie uma mensagem para...”. O
telefone toca e: “vocês vão mandar alguém para cobrir a posse do
sub-vice-tesoureiro da presidência de sei
lá que porra de empresa é essa!? Não, não iremos, estamos em
fechamento de edição! Outro cigarro. Outro café. Toma água. Lava as mãos.
Respira fundo... Um dia de cada vez!, o lema de oito em cada dez jornalistas,
tanto no AA, quanto na redação.
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