quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rolezinho no shopping diferencia homens de animais - um passeio na Ilha do Dr. Moureau

Numa remota ilha chamada Planeta Terra, Dr. Moureau tenta – por intermédio do governo, controle de taxas de juros e lucros, câmbio, comércio, trabalho assalariado, crescimento econômico, exploração e pauperismo unilateral – transformar “animais” em “homens”.

O experimento parece ter sucesso, e muitos dos “animais” passam a crer terem tornado-se “homens” – o estereótipo de humanidade predefinido por Moureau, pautado no consumo fetichista de bens e serviços, mudez frente à opressão e concordância cega em relação às determinações do estado.

O controle, evidentemente, se dá além da mera ideologia desenvolvida por Moureau. Ciente da natureza “animal”, combativa e questionadora, o bom doutor manipula seus discípulos colocando-se não somente na figura de um “deus a ser adorado”, mas os pune fisicamente a cada nova tentativa de alteração do – frágil – governo social.

A medida, acalmem-se caros leitores, é normalmente acatada também pela maioria dos “animais”, pois, sabem eles, que somente por meio da força, muitas vezes conseguem dominar seus impulsos de “andar em quatro patas” e, com isso, privarem-se do uso de seus cartões de crédito e roupas de marca. Eles querem, acima de tudo, continuar dirigindo seus carros e saboreando a inércia de não ter de se preocupar com nenhuma mudança, pois o fim da história já chegou.

Esse tal de “fim da história”, todavia, também é uma artimanha do sistema moreaulista. Para os simpatizantes desta estrutura, a evolução atingiu o grau máximo e os “homens” só não são “animais” quando adequados a ela.

Porém, é necessário apontar as contradições: na medida em que o mundo de Moureau só pode existir embasado na diferença entre “homens” que detém os sistemas de produção e “animais” que produzem em busca de tornarem-se “homens”, alguns dos “animais” passam a questionar a eficácia do sistema. Eles querem os carros, os tênis, os celulares... E farão qualquer coisa para tê-los, pois só assim serão reconhecidos como “homens”.

Quando não o podem, se revoltam. Ocupam os templos em louvor ao consumo e são rapidamente escorraçados pelos “homens”, com toda a brutalidade decorosa que merecem na figura de “animais” laboriosos que são.

A merda está feita!

As opiniões divergem. De um lado, “animais” afirmam que somente quererem se divertir, compactuar da alegria “infindável” dos "homens" que sobrevém no fim da história. De outro, estes “homens” questionam se a presença de “animais” em ambientes voltados aos “homens” é aceitável, pois somente se comportam como humanos os que conseguem atuar financeiramente como tal – os “animais” não têm dinheiro, para que ir ao shopping? Para fazer arruaça? Para roubar? Vândalos! 

Por fim, um terceiro grupo, nem “homem”, nem “animal”, postado no meio termo da pirâmide social, questiona a segregação originada na imposição de espaços meramente humanos - de um lado o direito de ir e vir, do outro, o direito a propriedade, deixa os "homens/animais" confusos e, na dúvida, colocam o fone de ouvido e seguem caminhando, fingindo não ouvir o mundo ao redor.

A consequência final, não haveria de ser outra, dado que existem muito mais “animais” do que “homens”, é a revolta do primeiro em relação ao segundo. Moureau, abalado, cai de seu trono e é devorado por suas crias, muito mais numerosas e humanas que os “homens” que tentara desacertadamente instituir. Que tentara debilmente controlar.


Um comentário:

  1. Apois, Num é assim mesmo... podem até conduzir o povo ao analfabetismo, mas à idiotice... Só vai quem quer.

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