Numa remota
ilha chamada Planeta Terra, Dr. Moureau tenta – por intermédio do governo,
controle de taxas de juros e lucros, câmbio, comércio, trabalho assalariado, crescimento
econômico, exploração e pauperismo unilateral – transformar “animais” em “homens”.
O experimento
parece ter sucesso, e muitos dos “animais” passam a crer terem tornado-se “homens”
– o estereótipo de humanidade predefinido por Moureau, pautado no consumo fetichista
de bens e serviços, mudez frente à opressão e concordância cega em relação às
determinações do estado.
O controle,
evidentemente, se dá além da mera ideologia desenvolvida por Moureau. Ciente da
natureza “animal”, combativa e questionadora, o bom doutor manipula seus
discípulos colocando-se não somente na figura de um “deus a ser adorado”, mas
os pune fisicamente a cada nova tentativa de alteração do – frágil – governo social.
A medida,
acalmem-se caros leitores, é normalmente acatada também pela maioria dos “animais”,
pois, sabem eles, que somente por meio da força, muitas vezes conseguem
dominar seus impulsos de “andar em quatro patas” e, com isso, privarem-se do uso
de seus cartões de crédito e roupas de marca. Eles querem, acima de tudo,
continuar dirigindo seus carros e saboreando a inércia de não ter de se
preocupar com nenhuma mudança, pois o fim da história já chegou.
Esse tal de “fim
da história”, todavia, também é uma artimanha do sistema moreaulista. Para os
simpatizantes desta estrutura, a evolução atingiu o grau máximo e os “homens”
só não são “animais” quando adequados a ela.
Porém, é
necessário apontar as contradições: na medida em que o mundo de Moureau só pode
existir embasado na diferença entre “homens” que detém os sistemas de produção
e “animais” que produzem em busca de tornarem-se “homens”, alguns dos “animais”
passam a questionar a eficácia do sistema. Eles querem os carros, os tênis, os
celulares... E farão qualquer coisa para tê-los, pois só assim serão
reconhecidos como “homens”.
Quando não o
podem, se revoltam. Ocupam os templos em louvor ao consumo e são rapidamente escorraçados
pelos “homens”, com toda a brutalidade decorosa que merecem na figura de “animais” laboriosos que são.
A merda está
feita!
As opiniões
divergem. De um lado, “animais” afirmam que somente quererem se divertir,
compactuar da alegria “infindável” dos "homens" que sobrevém no fim da história.
De outro, estes “homens” questionam se a presença de “animais” em ambientes
voltados aos “homens” é aceitável, pois somente se comportam como humanos os
que conseguem atuar financeiramente como tal – os “animais” não têm dinheiro,
para que ir ao shopping? Para fazer arruaça? Para roubar? Vândalos!
Por fim, um terceiro
grupo, nem “homem”, nem “animal”, postado no meio termo da pirâmide social,
questiona a segregação originada na imposição de espaços meramente humanos - de um lado o direito de ir e vir, do outro, o direito a propriedade, deixa os "homens/animais" confusos e, na dúvida, colocam o fone de ouvido e seguem caminhando, fingindo não ouvir o mundo ao redor.
Apois, Num é assim mesmo... podem até conduzir o povo ao analfabetismo, mas à idiotice... Só vai quem quer.
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