Que saudades dos dias de orelhão e
ficha, quando a distância existia e impedia o imediatismo praticado hoje. O
telefone era ainda um fetiche proponente a extinguir a correspondência – e engraçado,
como no século 19, por carta, os pensadores justificavam tais títulos com muito
mais profundidade do que atualmente o fazem os “cabeças” da humanidade.
O “sumiço” tornou-se, de repente, um
pecado capital – digno de broncas e DRs astronômicas. Aquele cara que foi até a
padaria comprar cigarros e voltou quatro dias depois é uma espécie em extinção –
encontrada somente em modelos nascidos em meados da década de 1940... Os jovens
estão sempre “encontráveis”.
Um artigo da jornalista Eliane Brum,
publicado no site da revista Época – pois é, também fiquei surpreso por algo de
qualidade estar ali – realiza uma análise interessante: “Estamos
vivendo como se tudo fosse urgente. Urgente o suficiente para acessar alguém. E
para exigir desse alguém uma resposta imediata. Como se o tempo do “outro”
fosse, por direito, também o “meu” tempo. E até como se o corpo do outro fosse
o meu corpo, já que posso invadi-lo, simbolicamente, a qualquer momento”.
PORRA! É ISSO!
10:39 - “Oi, td bem?”
Mensagem
visualizada às 10:39
10:40 – “Vc ta aí?”
10:40 – “Tá fazendo o
que?”
Mensagem
visualizada às 10:41
10:41 – “L
Não vai responder?”
Mensagem
visualizada às 10:41
10:41 – “Puto(a)!”
A mensagem visualizada,
e não respondida, será o mal do século? Certamente psicanalistas têm lucrado
bastante com essa funcionalidade dos novos métodos de conversação online. Para
os internautas compulsivos deve equivaler ao “bater o telefone na cara”; ou,
quem sabe, até mesmo àquele furo, no qual o sujeito fica plantado no
restaurante beliscando pão e tomando água...
Tá aí, caro leitor, não
é a toa que o Rivotril tem se tornado um dos medicamentos mais consumidos dos
últimos tempos – e como num passe de mágica todos estão calmos, aguardando “infinitos”
quinze minutos pela réplica a uma frase de suma importância, como “esse calor tá
foda!” ou “você viu o canal 49 ontem, o cara caiu de cima de um balde...”. A
velocidade está nos transformando em babacas histéricos. E agora dá licença,
que vou ir comprar cigarros...
ResponderExcluirMas, em alguns casos, há pessoas que esperam que a outra pessoa esteja sentada do outro lado da tela, 24 horas por dia esperando uma resposta imediata. A vida não é assim, também não é assim com o telefone. Você pode ligar para alguém uma vez por dia, se mesmo. Você pode escrever uma carta, uma vez por mês, se mesmo. Mas você não pode esperar que alguém fique sentado na frente de um computador 24 horas por dia. só para responder ao teu "Ola, como você está?" Justamente, seria bom se a pessoa a quem você escreveu, respondesse na primeira chance que eles têm disponível. Talvez a lição aqui, é de desligar o computador, ou a tela de mídia social, para que a pessoa do outro lado pode saber que você não está disponível para responder assim que ele ou ela escrever. para você ...