terça-feira, 20 de maio de 2014

O Poder paga pela mentira, custe o que custar

O quadro Proteste Já, transmitido e produzido pelo programa Custe o Que Custar (CQC), da Rede Bandeirantes, expôs na última segunda-feira (19) uma realidade gritante do jornalismo regional: o implícito controle da administração pública sobre os veículos de comunicação. Na reportagem, o jornalista Oscar Filho vai até o município de Lagoa Santa, em Minas Gerais, tirar satisfação sobre uma suposta nota oficial da emissora, emitida ao periódico Jornal Diferente, na qual limpa a barra do prefeito Fernando Pereira (PSB) e do secretário de Planejamento Urbano, Marco Aurélio Pereira, acusados, também pelo Proteste Já, respectivamente de ter dois salários na Prefeitura e de ligação com empresário vencedor de uma licitação milionária na cidade.

O jornal, após a exibição da matéria, apresenta aos leitores uma série de informações, segundo o CQC, inventadas. Insinua, nas linhas assinadas por Elvis Pereira, jornalista responsável pela reportagem, que o quadro faz parte de uma articulação política e, ainda, levanta questionamentos quanto à apuração e transmissão dos dados colhidos. Em outras palavras, o Jornal Diferente afirma que o CQC puxou sardinha para os denunciantes e não ouviu a população, e que tudo não passa de uma picuinha de ex-aliados do prefeito, que resolveram perseguir o antigo chefe.

A cena transcorre com uma patética perseguição de Oscar a Elvis, que termina numa delegacia de polícia. Os donos do jornal põem a culpa no jornalista, o jornalista não sabe o que dizer – entre um argumento falho e outro, simplesmente empreende a modalidade Forrest Gump, ou seja, corre.

O Cafife noticiou, em seu último post (http://cafife.blogspot.com.br/2014/05/bonome-compra-o-diario-do-grande-abc.html), a compra de uma parcela significativa do jornal Diário do Grande ABC pelo candidato a deputado estadual, Nilson Bonome. A matéria do CQC revela que os medos elencados pelo Cafife têm embasamento.

O controle da mídia regional por parte de políticos e empresários está fundamentado em uma questão simples: sem eles o jornal pequeno não tem grana para existir. A partir disto, assistimos à ascensão do jornalismo pastel, cuja base é o interesse dos que anunciam – e o anúncio é a única fonte de renda dos jornais, atualmente.

De tempo em vez, para bonificar o anunciante, algum jabacule é publicado, e os jornais são vistos repletos de matérias estúpidas que ostentam políticos, empreendimentos e empresários (não se engane! Tudo isso é pago, e BEM pago!)

Lógico, isso também ocorre na grande mídia, mas o método regional é mais tosco e evidente. Os rabos presos nas províncias são bem mais curtos que no âmbito nacional. Pode ser – não podemos excluir qualquer possibilidade – que a Band também tenha seus interesses na denúncia em questão. Mas o contundente a ser entendido é que, aos leitores, expectadores e pessoas em geral, cabe hoje uma apuração dos fatos que devia ser exercida pelo jornalismo (ou seja, estamos fodidos!).


Mais uma vez, é patente que a seriedade se esvai com o abrir das carteiras, essas sim imparciais.

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