Chego à
redação por volta das 9h e lá está nossa diagramadora contabilizando as férias
que pretende solicitar em janeiro. Ela me apresenta o cronograma e esclarece o
método pelo qual, segundo ela, se tornará possível entregar todas as
publicações da editora dentro do prazo. Há na diagramadora uma energia juvenil,
é como se houvesse no âmbito do vigor uma alegria triunfante.
Penso
então nas formas do trabalho e na maneira como encaramos a labuta diária.
Labuta,
inclusive, é uma palavra feia. Foneticamente, pra mim, tem o som de uma
chicotada ou de qualquer coisa que esfola a carne. Para o dicionário Houaiss,
labuta começa como um substantivo feminino que significa “trabalho árduo e
penoso, lida, canseira”. A derivação por extensão de sentido da palavra,
todavia, é apontada no léxico como simplesmente “qualquer forma de trabalho”.
Em que
período histórico da humanidade, então, a aflição foi convertida em sinônimo de
trabalho, e vice e versa? Quando determinamos que o trabalho é necessário para
a felicidade, mas que a felicidade só é obtida fora do trabalho? Por que a base
da sociedade humana tem de ser uma pena para a sociedade humana, quase um
castigo diário pelo qual devemos passar caso queiramos obter as coisas que nos
cercam?
Karl
Marx, filósofo alemão do século 19, disse certa vez que “o trabalho não é a
satisfação de uma necessidade, mas um meio para satisfazer outras
necessidades”. Acrescento: essas “necessidades” que buscamos saciar são parte
de um processo no qual as demandas são criadas para serem perseguidas, e de
repente, todos somos fisgados para uma realidade na qual a posse de um bem de
consumo torna-se a necessidade em si, e o conteúdo que se dane – queremos
sapatos cujo “brilho” supera a durabilidade.
Esse
mesmo alemão chamou esse processo (ou algo parecido com isso! Estou um pouco
confuso!) de alienação – leiam os “Manuscritos econômicos filosóficos”, de
Marx, não vai arrancar pedaço e garanto que você não vai querer abrir mão da
sua casa e dividir o seu dinheiro, como garantem os ideólogos do anticomunismo.
O sociólogo brasileiro Ricardo Antunes, no livro “O Caracol e sua concha”,
sintetizou o tema. Para ele, o ponto crucial está na centralidade do trabalho
na sociedade atual. O trabalho é, segundo Antunes, um elemento historicamente
determinado, essencial para a existência do homem.
Mas sem
precipitações, patrões exultantes frente à afirmação, Marx complementa: “Quanto mais o trabalhador se desgasta trabalhando,
tanto mais poderoso se torna o mundo objetivo, alheio que ele cria diante de
si, tanto mais pobre se torna ele mesmo, seu mundo interior, e tanto menos o
trabalhador pertence a si próprio”.
Traduzindo: quanto mais você trabalha, maior fica o
bolo que você nunca irá comer.
Sem mais!
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