quinta-feira, 24 de julho de 2014

A cadeira 32 está vaga

Quando em 2011 Ariano Suassuna trouxe sua aula show a São Bernardo do Campo, lembro-me de avaliar seu aspecto frágil e determinar: esse está com o pé na cova! Estava redondamente enganado. Por mais de uma hora o escritor esbanjou disposição e alegria, cravando frases certeiras e arrancando risos que nasciam aos borbotões entre as centenas de pessoas que ocupavam o Teatro Lauro Gomes. Em minha mente, ficou estabelecida a abertura do espetáculo: “Divido a humanidade em duas metades”, afirmou Ariano, “de um lado estão os que gostam de mim e concordam comigo, do outro estão os equivocados”. Naquela noite, após a aula, não sobrou um único equivocado no local.

A apresentação se encerra e uma assessora de imprensa comunica aos jornalistas: “Ariano vai receber vocês no camarim, mas sejam breves, ele está bem velhinho e muito cansado”. Mais um erro de avaliação: Suassuna respondeu às perguntas com desenvoltura, sem nenhuma partícula de canseira. Eu estava mais caído que ele.

Não havia planejado qualquer pergunta para Ariano quando seus olhos ligeiros, cobertos por aquelas sobrancelhas enormes, me encontraram entre os jornalistas. Era minha hora, mas não tinha nenhuma questão – todas as minhas dúvidas haviam se encerrado após o show. Mesmo assim, arrisquei uma pergunta: e o livro novo? A resposta foi direta: “xiii, meu filho, ta longe, nem sei se termino ele vivo”. De fato, estava certo novamente e a cadeira 32 da Acadêmia Brasileira de Letras não será mais sentada por talento igual.

Imagino agora Suassuna se explicando com Deus. “Porra Suassuna, que demora, tamo te esperando aqui faz tempo”, diz o Criador que, curioso, indaga por fim: “que te deu pra  ficar tanto no mundo?”. Ariano dá de ombros e situa: “Não sei, só sei que foi assim!”.

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