segunda-feira, 22 de julho de 2013

Lá vem o Papa, Papa aqui, papo acolá...

O Papa Francisco chegou hoje. Mas a visita já vinha, desde sua confirmação, com um caráter específico: angariar jovens para o catolicismo – uma gula descomunal, pois se estima que, no mundo, 1,2 bilhão de indivíduos (40% disso na América Latina) optaram por tal religião.

E o discurso não haveria de ser diferente. Num português castelianizado, Chico apontou a juventude como a salvação da lavoura, como se o problema do mundo fosse de ordem moral, e não estrutural de um sistema econômico esgotado e incapaz de sanar as diferenças sociais – a fé, com seu poder redentor místico, é mais forte que o Capital (risos); a fé é base popular do capitalismo: a fé na mudança de vida, a fé na ascensão social (impossível ascensão social), a fé num deus salvador que, por sua misericórdia, acolherá os pobres e repudiará os ricos (é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino do céu, já dizia a bíblia comicamente).

Cheio de mimos, com um rosto bonachão, o Papa afirma que “Cristo bota fé nos jovens”. Quem bota, caro Chico, é galinha! “Venho para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração”, diz ele – mas deixemos a ingenuidade:  para cada chama que arde fraternamente no coração, suprime-se o oxigênio necessário ao fogo revolucionário da real mudança.

Aí, então, chega nossa Dilma Rousseff, exaltando a “renovação” e a “esperança” por intermédio dos “valores”. Quais “valores”, dona Dilma? Os religiosos? Devem ser, pois, ela mesma afirmou, “as pastorais católicas têm sido importantes parceiras da autoridade brasileira na promoção da defesa dos direitos da criança e do adolescente”. Caralho bicho, é uma mão balançando o berço e a outra apalpando as partes pudendas das criancinhas.


A juventude não pode salvar nada somente com o amor no coração. Ninguém pode. Essa é a falácia, a mentira predeterminada segundo a qual os poderosos continuam poderosos e os miseráveis continuam miseráveis. Mas se acalmem pobres, a fé remove montanhas – e no lugar delas construiremos shopping centers e bancos multinacionais.

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