O Papa Francisco chegou
hoje. Mas a visita já vinha, desde sua confirmação, com um caráter específico:
angariar jovens para o catolicismo – uma gula descomunal, pois se estima que,
no mundo, 1,2 bilhão de indivíduos (40% disso na América Latina) optaram por
tal religião.
E o discurso não
haveria de ser diferente. Num português castelianizado,
Chico apontou a juventude como a salvação da lavoura, como se o problema do
mundo fosse de ordem moral, e não estrutural de um sistema econômico esgotado e
incapaz de sanar as diferenças sociais – a fé, com seu poder redentor místico,
é mais forte que o Capital (risos); a fé é base popular do capitalismo: a fé na
mudança de vida, a fé na ascensão social (impossível ascensão social), a fé num
deus salvador que, por sua misericórdia, acolherá os pobres e repudiará os
ricos (é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico
entrar no reino do céu, já dizia a bíblia comicamente).
Cheio de mimos, com um
rosto bonachão, o Papa afirma que “Cristo bota fé nos jovens”. Quem bota, caro
Chico, é galinha! “Venho
para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração”, diz ele – mas
deixemos a ingenuidade: para cada chama
que arde fraternamente no coração, suprime-se o oxigênio necessário ao fogo
revolucionário da real mudança.
Aí, então, chega nossa
Dilma Rousseff, exaltando a “renovação” e a “esperança” por intermédio
dos “valores”. Quais “valores”, dona Dilma? Os religiosos? Devem ser, pois, ela
mesma afirmou, “as pastorais católicas têm sido importantes parceiras da
autoridade brasileira na promoção da defesa dos direitos da criança e do
adolescente”. Caralho bicho, é uma mão balançando o berço e a outra apalpando
as partes pudendas das criancinhas.
A juventude não pode
salvar nada somente com o amor no coração. Ninguém pode. Essa é a falácia, a
mentira predeterminada segundo a qual os poderosos continuam poderosos e os
miseráveis continuam miseráveis. Mas se acalmem pobres, a fé remove montanhas –
e no lugar delas construiremos shopping centers e bancos multinacionais.
Foda!
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