terça-feira, 16 de julho de 2013

O jornalismo não salvará o dia, nem o dia salvará o jornalismo


Com a proposição de ser objetivo, o jornalismo tem determinado seu destino como algo pasteurizado, sem conteúdo humano. A realidade, meus caros, é irrelevante. Dados, planilhas, organogramas e declarações de gaveta tomam o espaço da efetiva informação. A notícia está longe da realidade e, sob a alegação de passar apontamentos ao qual o público em geral não tem acesso, a reportagem apenas aponta o que se quer que seja apontado, da parte dos meios interessados (administrações públicas, corporações midiáticas, gestores e, por que não, jornalistas interesseiros e artistas inquietados).

A mídia regional – como, por exemplo, a do ABC – está inserida nos moldes predefinidos pelas grandes mídias. São, de um lado, organizadas segundo trustes da notícia e, de outro, segundo lobbys administrativos. Aos jornalistas, meros agentes vazios sem direito a opinião, designa-se a função de acólitos deste formato medíocre de reportar os fatos.
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Pois que vire blogueiro, amigo jornalista, ou, quem sabe, colunista  caso queira escrever o que vê de fato – ainda que este último seja um indivíduo pseudo-opinativo, na maioria das vezes. De resto, lamba as botas e, pior, assine a lambida – pois, caso alguma merda aconteça, o veículo “não reflete opiniões expressadas em matérias assinadas”.

Mas o ato de blogar também é perigoso, vide os processos que rondam profissionais que, supostamente, atacam a “honra” de pessoas influentes.

E o que de fato é a “honra”? O que de fato especifica o que deve ou não ser dito, tratado ou revelado?

Ao ver deste humilde escrevinhador de textos, parece que só tem honra quem tem poder – apesar de que só tem poder quem não tem honra.

A definição de honra, no dicionário, é ampla. Ao invés de apegarem-se, os que se dizem desonrados, na acepção de probidade, virtuosidade, justiça social ou coragem, aplicam seus processos pelo ataque ao lado mais vazio da honra, acentuado na glória, fama e reputação. Pois, aos que a reputação não condiz com a prática real, que sejam desonrados e expostos.

Bela utopia e ingenuidade essa... A vida é pautada pelo vazio da reportagem como maneira de controle das consequências dos fatos ipsis litteris. Enquanto houver poder que governe as formas, os métodos e as maneiras pelas quais uma ocorrência deve ser relatada, um manual de boas maneiras e decoro, a única coisa que os receptores da notícia terão são as notícias que os noticiados noticiariam. Ou seja, a mentira predeterminada de acordo com as respostas esperadas. A teoria formulada sem os dados, para que os dados se ajustem a teoria - deveria ser o contrário (ou melhor, só ao contrário a verdade se fundamenta).

Os leitores estão ávidos por realidade. E é esta avidez que assusta os noticiados. A mídia regional deveria ser o foco saciatório dessa vontade. Contudo, a existência do poder financeiro - e a necessidade de existir segundo ele -  faz com que seja o inverso. Mas quem liga para a contradição num mundo de cabeça para baixo? 

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