Com a
proposição de ser objetivo, o jornalismo tem determinado seu destino como algo
pasteurizado, sem conteúdo humano. A realidade, meus caros, é irrelevante.
Dados, planilhas, organogramas e declarações de gaveta tomam o espaço da
efetiva informação. A notícia está longe da realidade e, sob a alegação de
passar apontamentos ao qual o público em geral não tem acesso, a reportagem
apenas aponta o que se quer que seja apontado, da parte dos meios interessados
(administrações públicas, corporações midiáticas, gestores e, por que não,
jornalistas interesseiros e artistas inquietados).
A mídia
regional – como, por exemplo, a do ABC – está inserida nos moldes predefinidos
pelas grandes mídias. São, de um lado, organizadas segundo trustes da notícia e, de outro, segundo lobbys administrativos. Aos jornalistas, meros agentes vazios sem
direito a opinião, designa-se a função de acólitos deste formato medíocre de
reportar os fatos.
.
Pois que vire blogueiro, amigo jornalista, ou, quem
sabe, colunista caso queira escrever o que vê de fato – ainda que este último seja um indivíduo pseudo-opinativo, na maioria das vezes. De resto, lamba as
botas e, pior, assine a lambida – pois, caso alguma merda aconteça, o veículo “não
reflete opiniões expressadas em matérias assinadas”.
Mas o ato de blogar também é perigoso, vide os
processos que rondam profissionais que, supostamente, atacam a “honra” de
pessoas influentes.
E o que de
fato é a “honra”? O que de fato especifica o que deve ou não ser dito, tratado
ou revelado?
Ao ver deste
humilde escrevinhador de textos, parece que só tem honra quem tem poder –
apesar de que só tem poder quem não tem honra.
A definição de
honra, no dicionário, é ampla. Ao invés de apegarem-se, os que se dizem
desonrados, na acepção de probidade, virtuosidade, justiça social ou coragem, aplicam
seus processos pelo ataque ao lado mais vazio da honra, acentuado na glória,
fama e reputação. Pois, aos que a reputação não condiz com a prática real, que
sejam desonrados e expostos.
Bela utopia e
ingenuidade essa... A vida é pautada pelo vazio da reportagem como maneira de
controle das consequências dos fatos ipsis
litteris. Enquanto houver poder que governe as formas, os métodos e as
maneiras pelas quais uma ocorrência deve ser relatada, um manual de boas
maneiras e decoro, a única coisa que os receptores da notícia terão são as
notícias que os noticiados noticiariam. Ou seja, a mentira predeterminada de
acordo com as respostas esperadas. A teoria formulada sem os dados, para que os dados se ajustem
a teoria - deveria ser o contrário (ou melhor, só ao contrário a verdade se fundamenta).
Os leitores
estão ávidos por realidade. E é esta avidez que assusta os noticiados. A mídia regional deveria ser o foco saciatório dessa vontade. Contudo, a existência do poder financeiro - e a necessidade de existir segundo ele - faz com que seja o inverso. Mas quem liga para a contradição num mundo de cabeça para baixo?
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