quarta-feira, 27 de março de 2013

A mãe de Bukowski!


Não sei exatamente quando, mas há relativo pouco tempo uma série de trabalhadores italianos desembaraçaram em nosso país para uma missão duplamente estúpida: servir os reis do café e do leite, e tentar mudar de vida – algo que, em si, já é idiota. Junto desses atraentes italianos veio uma noção de família unida que destruiu, e ainda destrói, toda possibilidade remota de individualidade e libido (real).

Dia após dia, hora após hora, e blá blá blá... nós estúpidos seres humanos fingimos nossa autoestima, simulando alegria, vomitando palavras de conforto como se a vida pudesse ser melhor somente ao ouvir você dizer que ela “é melhor”. Mas a verdade é que não existe simulação de autoestima quando se está num motel, às três da manhã, e o telefone toca.
Porra, o que seria de Huter S. Thompson se, em pleno “medo e delírio em Las Vegas”, quando chegava ao cerne da incansável busca por desmascarar o “sonho americano”, uma preocupada genitora ligasse repreendendo sua alimentação, queixosa da hora avançada, cagando em cima de Hunter toda a merda que lhe foi imposta goela abaixo por seus antepassados retardados que encontraram na união familiar uma nova forma de exploração do trabalho e, dissimulando, determinaram isso como amor.
E se Charles Bukowski, ou Henry Chinaski estivesse fodendo com Lydia – ou April, Lilly, Dee Dee, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie – e, de repente, enquanto penetrava uma delas (ou várias) com seu vigoroso órgão fosse interrompido por aquela velha mama, acostumada com seus filhos sob a asa, ligando com voz chorosa e queixo trêmulo, perguntando “onde está? Como vai voltar? É tão perigoso esta hora...”. Estamos assassinando a espontaneidade, e isso nos fará ler textos escrotos de Twiter pelo resto da eternidade, pois nenhuma mente criativa sobrevive a regra e a rotina. 
Este texto não trata de uma crítica específica ou vazia da forma familiar, mas da falta de individualidade, da morte dos ideais de liberdade, do trabalho matutino e da vida saudável, da falta de cigarros e álcool, da prudência avassaladora que, no fim, somente serve para que mais um escravizado mantenha-se firme na labuta.
Assim vamos, seguindo mais ou menos em linha reta, por que nos esquecemos de como é bom o ziguezague. Caminhamos de olhos fechados porque a luz ofusca nossas vistas broxas e meia bomba. Nossa vontade é assassinada pela noção de família, que só existe no imaginário das velhas mães italianas, aprisionadas pela mentira perpétua que as define.

2 comentários:

  1. Que bom que a gente sempre dá umas tropeçadas e tem uns dias de ziguezague!

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