Quem
não chora não mama, diz o ditado, atestando que a vontade necessita ser
declarada diante da figura que deve (e tem o direito de) satisfazer a
necessidade explicitada pelo pedinte que, por regra, o é em virtude da relativa
inferioridade financeira, física, intelectual ou social, determinada pressupostamente
pelo provedor, em acordo tácito e de
direito consuetudinário com o pedinte. Desta relação, nasce também o lucro.
Apesar
de popular, a frase inicial deste texto demonstra o fundamento que a sociedade contemporânea
tomou como verdade perene: um sistema econômico falho, cujo escopo é realizar o
oposto ao que o termo lexicamente se propõe (ou seja, alvitra incentivar o
consumo). Com isso, se fomenta o enriquecimento de classes específicas, em
detrimento a outras, deixando, ainda, de lado o comprometimento com os recursos
naturais do planeta, limitados e irrenováveis em curto prazo.
Neste
sistema, o indivíduo não estabelecido no rol dos detentores dos meios de
produção se apresenta na figura de força material, ou de trabalho, gerando a
riqueza da qual somente pode usufruir provando possuir os méritos predefinidos pelos
supostos gestores da sociedade – os já citados detentores. Tarefa esta
tecnicamente impossível em larga escala, gerando multidões incontáveis de
miseráveis de boca aberta, a esperar
que lhes seja atirado algum provimento.
Ruim
tal situação – de imposição invisível ao empenho social pela suposta prosperidade
de um sistema que cresce unilateralmente – na qual a subsistência é recebida
como graça, como brinde, como algo que se obtém gratuitamente, um presente dado
por aqueles que, ao contrário do pedinte, ascenderam socialmente, pelo próprio
esforço, luta e trabalho, com as bênçãos
da meritocracia (isso é um engodo!).
É
comum ouvir de alguém que o serviço de saúde oferecido pelo governo é gratuito.
Contudo, não se coloca neste cálculo os impostos pagos em toda e qualquer ação
consumidora realizada e a parcela ínfima que o trabalhador embolsa do fruto do
trabalho. Na mente esfolada da plebe, ferida propositalmente pela nobreza,
o dado é menos percebido que o recebido. Os impostos incorporados nos alimentos
e produtos em geral e a exploração do trabalho, ocorrem de maneira imperceptível
aos olhos do oprimido, enquanto o cuidado médico, por exemplo, o é recebido
como um favor – que apesar de parco em eficiência, é aceito complacentemente (em
cavalo dado não se olha os dentes).
Quando,
no futuro, perscrutarem o que chamamos presente, indagarão como pudemos
reproduzir a situação esdrúxula, ilusória e parcial do capital, na mesma medida
que hoje nos perguntamos como um dia vivemos sem computadores, veículos
motorizados, roupas de grife, aparelhos eletrônicos e sistemas tecnológicos de
comunicação.
A
questão é: quando a pergunta futura for proferida, a indagação presente quanto
ao passado terá sido também extinta? Até que ponto nossas necessidades
contemporâneas serão mantidas, e quanto serão alteradas, quando for superada a
sociedade atual fundamentada na obtenção de privilégios unilaterais por parte
dos detentores dos meios de produção?
Não
há resposta imediata, mas é possível ter certeza de que a durabilidade dos bens
que hoje, em virtude do imperativo de rotatividade da (des)economia instituída,
se autodestroem (literalmente) após um certo período, não mais ocorrerá. Os
serviços diretamente ligados à subsistência não mais terão um preço e a
qualidade de vida será um direito, não um privilégio. Cada um dará à sociedade
o que pode, recebendo de volta o que necessita. Olharemos para a Terra,
finalmente, como uma parceira e usufruiremos somente o necessário, ao contrário
da pilhagem ecogenocida praticada hoje. Seremos o melhor do que se designa “humano”,
e relevaremos essa paródia atual de nós mesmos a um remoto passado de barbárie
enrustida vivenciada por selvagens ignorantes.
Isso
virá somente com a luta, não se enganem!
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