quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Delírio em debate entre candidatos à Prefeitura andreense


Um debate morno cujo fundamento foi o ataque ao mais provável vencedor das eleições andreenses, o atual prefeito Aidan Ravin (PTB). “O Gordo”, como é alcunhado em momentos de descontração de seus opositores e de lucidez dos eleitores, não compareceu. Mas isso já era de se esperar! Por que entrar na piscina das lontras selvagens e ser estraçalhado frente ao público se você pode simplesmente sentar no sofá e esperar os desinformados voltarem às urnas em outubro? Ops! Peço desculpas, pois cometi uma injustiça: Aidan não está parado, está em campanha – inclusive em horário de expediente, dada uma muito obscura queda no banheiro que lhe quebrou o braço direito impedindo-o de despachar em seu gabinete (supostamente o prefeito é destro!).
Mas a tática do sumiço não é exclusividade de Santo André. Consta no “Manual do Candidato Quase lá”, que adverte, sob pena de perder o direito de brincar no quintal e assistir TV, que quando se está na frente nas pesquisas, o lugar de ficar entre a multidão é atrás. Luiz Marinho (PT), candidato em São Bernardo, também segue o ritual. (vitória certa, já comprou inclusive uma nova escuna na qual pretende viajar para a Bahamas após a festa da posse – cujo coquetel já está contratado e, comenta-se nos corredores, terá Lula no menu).
Mas estávamos falando do debate, caceta! Pois é... É realmente vergonhoso assistir tantos sonhos sendo relatados sem base alguma na realidade. Platão aplaudia efusivamente, da plateia, a cada nova proposta. “Teremos totens espalhados pela cidade nos quais o munícipe poderá marcar consultas médicas, escolhendo o horário e o local”; Platão, que sentado ao meu lado incomodava-me com o cotovelo, assobiava com o dedo entre os lábios, gritando em seguida: “Boa Fláquer (PRTB)! Boa!”.
Uma fileira à frente, Comênio tomava nota sem parar – dizia estar escrevendo um artigo para “Didactica Magna”; perdi o interesse na conversa quando vi uma baba presa em seu bigode. Mas antes do início do debate pude flagrá-lo, no banheiro, conversando com Raimundo Salles (PDT). “Aposta na educação. É batata!”, aconselhava. E não deu outra. Ao que parece a Fundação Santo André deixará de ser uma vergonha municipal para tornar-se nacional.
Na primeira fila, na terceira cadeira da esquerda para a direita, Hipócrates gesticulava sem parar, na tentativa frustrada de orquestrar Nilson Bonome (PMDB). “Construiremos um hospital no bairro Bangu”, dizia o candidato. Hipócrates frustrava-se enquanto tentava convencer Bonome a fazer seu famoso juramento frente às câmeras. O prefeiturável fingiu não ver.
Carlos Grana (PT), preocupadíssimo em deixar claro que o grande problema da cidade era a inexistência de competência da atual gestão, atrapalhava-se quando tentava anotar algo em seu bloquinho ilustrado do PT – por mais que arriscasse escrever com a esquerda, era a mão direita que lhe dava fluência.
Entretanto, aqui não posso deixar de registrar a presença de um senhorzinho de longas barbas, em trajes nitidamente alemães, sentado ao fundo do salão e segurando, firmemente contra o peito, um caderninho vermelho. Ele parecia muito interessado nas palavras do candidato Marcelo Reina (Psol). Ouvia atentamente e, em raras ocasiões, transparecia um ar satisfeito. Mas isso foi efêmero, na maior parte do tempo meneava negativamente a cabeça e repetia para si mesmo: “Não foi isso que eu quis dizer! Não foi isso...”

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