Mas
a tática do sumiço não é exclusividade de Santo André. Consta no “Manual do Candidato Quase lá”, que
adverte, sob pena de perder o direito de brincar no quintal e assistir TV, que
quando se está na frente nas pesquisas, o lugar de ficar entre a multidão é
atrás. Luiz Marinho (PT), candidato em São Bernardo, também segue o ritual.
(vitória certa, já comprou inclusive uma nova escuna na qual pretende viajar
para a Bahamas após a festa da posse – cujo coquetel já está contratado e,
comenta-se nos corredores, terá Lula no menu).
Mas
estávamos falando do debate, caceta! Pois é... É realmente vergonhoso assistir
tantos sonhos sendo relatados sem base alguma na realidade. Platão aplaudia
efusivamente, da plateia, a cada nova proposta. “Teremos totens espalhados pela
cidade nos quais o munícipe poderá marcar consultas médicas, escolhendo o
horário e o local”; Platão, que sentado ao meu lado incomodava-me com o
cotovelo, assobiava com o dedo entre os lábios, gritando em seguida: “Boa
Fláquer (PRTB)! Boa!”.
Uma
fileira à frente, Comênio tomava nota sem parar – dizia estar escrevendo um
artigo para “Didactica Magna”; perdi o interesse na conversa quando vi uma baba
presa em seu bigode. Mas antes do início do debate pude flagrá-lo, no banheiro,
conversando com Raimundo Salles (PDT). “Aposta na educação. É batata!”,
aconselhava. E não deu outra. Ao que parece a Fundação Santo André deixará de
ser uma vergonha municipal para tornar-se nacional.
Na
primeira fila, na terceira cadeira da esquerda para a direita, Hipócrates
gesticulava sem parar, na tentativa frustrada de orquestrar Nilson Bonome
(PMDB). “Construiremos um hospital no bairro Bangu”, dizia o candidato.
Hipócrates frustrava-se enquanto tentava convencer Bonome a fazer seu famoso
juramento frente às câmeras. O prefeiturável fingiu não ver.
Carlos
Grana (PT), preocupadíssimo em deixar claro que o grande problema da cidade era
a inexistência de competência da atual gestão, atrapalhava-se quando tentava
anotar algo em seu bloquinho ilustrado do PT – por mais que arriscasse escrever
com a esquerda, era a mão direita que lhe dava fluência.
Entretanto,
aqui não posso deixar de registrar a presença de um senhorzinho de longas
barbas, em trajes nitidamente alemães, sentado ao fundo do salão e segurando,
firmemente contra o peito, um caderninho vermelho. Ele parecia muito
interessado nas palavras do candidato Marcelo Reina (Psol). Ouvia atentamente
e, em raras ocasiões, transparecia um ar satisfeito. Mas isso foi efêmero, na
maior parte do tempo meneava negativamente a cabeça e repetia para si mesmo: “Não
foi isso que eu quis dizer! Não foi isso...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário