Uma
patente dicotomia do movimento contra o aumento da tarifa de ônibus em São
Paulo está em andamento. Existem agora, de acordo com o senso comum e a mídia, dois
agentes e eles, no interior do próprio manifesto, se opõem. De um lado,
manifestantes carinhosos carregam flores e abraçam policiais, cantam o hino
nacional e hasteiam a bandeira do Brasil. De outro, os chamados “vândalos”, “baderneiros”,
“arruaceiros” e “oportunistas” destroem o patrimônio público e são colocados
como elementos contrários ao movimento em si. Está todo mundo errado.
A
besteiragem já começa no fato de os partidos políticos – atualmente posicionados
na esquerda – serem impedidos de demonstrar sua determinação partidária sob a
acusação de estarem usurpando o movimento. Caceta, enquanto metade dessa
molecada estava tomando Nescau e chupando o cobertor para dormir os partidos já
estavam aí, fazendo manifestações que, antes, eram colocadas – por imprensa e
governantes – genericamente como baderna. Agora, com a ascensão do protesto carinhoso, partidos não devem
participar e quem ataca os patrimônios também não. Quem sobra: os patriotas
que, por pura ignorância, não percebem a linha tênue existente entre este patriotismo
e o nacionalismo, comum à ordem nazista e fascista.
Datena
afirmou em certo ponto que “é preciso respeitar a bandeira do Estado. Pessoas
morreram para defendê-la”. Bom, Datena, me desculpe... Mas se morreram
defendendo o Estado, morreram como meus
inimigos e pelas mãos de meus aliados.
A
Bandeirantes pontuou em diversos momentos que “não foi possível, sem a presença
da Polícia Militar conter a situação”. Para o Datena, as “pessoas que vieram só para apedrejar o prédio” deveriam, ser “pegos”. “Quando forem
pegos... o pau vai comer”, antecipava
ele. Todos colocaram que a atitude foi oito
ou oitenta. Ou a polícia vem e dá porrada, ou assiste inerte à
destruição.
Não
tenho dados suficientes para definir o plano que se coloca, por parte da classe
dominante de proprietários e governantes, para minar as reivindicações. Mas uma
coisa é certa: entre elas está a polarização do protesto, no qual, de um lado
os benéficos e pacíficos manifestantes desfilam pela cidade e, do outro, os
baderneiros e saqueadores se aproveitam da boa vontade de um povo que “acordou”.
Também no bojo da sabotagem deste
movimento está a inflação de suas exigências. Por todos os canais de TV o que
se vê é a tentativa de, por intermédio de supostos especialistas (cientistas
políticos e filósofos) demonstrar que os manifestantes foram “muito além da
tarifa”. A Globo News, inclusive, colocou o seguinte GC: “Protestos reivindicam eficiência nos gastos públicos em Saúde, Educação
e Transporte”.
Me
recuso a acreditar que seja somente ignorância. É fato que encher o protesto
com determinações diversas terminara por esvaziá-lo de conteúdo prático,
transformando-o em – parece ser intento de todos os envolvidos negativamente –
uma grande passeata em favor de um Estado de direitos democráticos. Um Estado
reformado...
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