quarta-feira, 19 de junho de 2013

Manifestação carinhosa é a nova onda do pedaço

Uma patente dicotomia do movimento contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo está em andamento. Existem agora, de acordo com o senso comum e a mídia, dois agentes e eles, no interior do próprio manifesto, se opõem. De um lado, manifestantes carinhosos carregam flores e abraçam policiais, cantam o hino nacional e hasteiam a bandeira do Brasil. De outro, os chamados “vândalos”, “baderneiros”, “arruaceiros” e “oportunistas” destroem o patrimônio público e são colocados como elementos contrários ao movimento em si. Está todo mundo errado.

A besteiragem já começa no fato de os partidos políticos – atualmente posicionados na esquerda – serem impedidos de demonstrar sua determinação partidária sob a acusação de estarem usurpando o movimento. Caceta, enquanto metade dessa molecada estava tomando Nescau e chupando o cobertor para dormir os partidos já estavam aí, fazendo manifestações que, antes, eram colocadas – por imprensa e governantes – genericamente como baderna. Agora, com a ascensão do protesto carinhoso, partidos não devem participar e quem ataca os patrimônios também não. Quem sobra: os patriotas que, por pura ignorância, não percebem a linha tênue existente entre este patriotismo e o nacionalismo, comum à ordem nazista e fascista.

Datena afirmou em certo ponto que “é preciso respeitar a bandeira do Estado. Pessoas morreram para defendê-la”. Bom, Datena, me desculpe... Mas se morreram defendendo o Estado, morreram como meus inimigos e pelas mãos de meus aliados.

A Bandeirantes pontuou em diversos momentos que “não foi possível, sem a presença da Polícia Militar conter a situação”. Para o Datena, as “pessoas que  vieram só para apedrejar o prédio” deveriam, ser “pegos”. “Quando forem pegos... o pau vai comer”, antecipava ele. Todos colocaram que a atitude foi oito ou oitenta. Ou a polícia vem e dá porrada, ou assiste inerte à destruição.

Não tenho dados suficientes para definir o plano que se coloca, por parte da classe dominante de proprietários e governantes, para minar as reivindicações. Mas uma coisa é certa: entre elas está a polarização do protesto, no qual, de um lado os benéficos e pacíficos manifestantes desfilam pela cidade e, do outro, os baderneiros e saqueadores se aproveitam da boa vontade de um povo que “acordou”. Também no bojo da sabotagem deste movimento está a inflação de suas exigências. Por todos os canais de TV o que se vê é a tentativa de, por intermédio de supostos especialistas (cientistas políticos e filósofos) demonstrar que os manifestantes foram “muito além da tarifa”. A Globo News, inclusive, colocou o seguinte GC: “Protestos reivindicam eficiência nos gastos públicos em Saúde, Educação e Transporte”.

Me recuso a acreditar que seja somente ignorância. É fato que encher o protesto com determinações diversas terminara por esvaziá-lo de conteúdo prático, transformando-o em – parece ser intento de todos os envolvidos negativamente – uma grande passeata em favor de um Estado de direitos democráticos. Um Estado reformado...

Mas não esqueçamos: o que importa não é reformar o Estado, mas sim erradicá-lo. Sua base é o pauperismo (a pobreza extrema) e sua existência é indissociável dele. Ele não pode ser melhor para o povo, pelo fato simples de que o povo estar na pior é premissa de sua existência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário